terça-feira, 28 de abril de 2009

ignorance is bliss

Clarice não quer saber quando vão ligar pra ela. Ela quer ficar quieta num cantinho. Pode ser embaixo do chuveiro quente no box apertado onde as lágrimas se misturam com todo o resto e ninguém pode ouvir. Melhor ainda seria ter um cantinho só pra ela. E não é que dá?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

hoje a insônia é minha

Tereza foi se deitar com sono e uma dor de cabeça lancinante cuja razão desconhecia. Tomou uma Neosaldina e um Dorflex, pluft, num gole d'água só. Será que isso faz mal, pensou. Ficou por uma meia hora sentindo a cabeça latejar e quase se convenceu de que tinha feito merda. No final das contas, a dor de cabeça se foi, mas a insônia chegou sem pedir licença. Sem dor, sem sono.

Desistiu. Levantou, lançou um naco de queijo minas numa torrada - o estômago já começava a reclamar - e ficou olhando pela janela. E lembrou-se das coisas que estava pensando enquanto deitada na cama tentava pegar no sono.

Lá na cama incômoda, se virou, virou o colchão ao contrário - cismou que o colchão estava viciado - trocou o travesseiro de lado. Dentro em pouco, se viu pensando em sair do corpo para tentar encontrar seu apaixonado. Pensou nele, na casa e na cama dele. Sentiu até o corpo um tantinho dormente, estou desdobrando, depois caiu na real e viu que estava era tendo uns cacarecos de tanto analgésico que tomou. Estou ficando louca mesmo.

E por aí pensou mais. Pensou aquém e além. Pensou que se cansou, no filme a que irá assistir no cinema, no filho que não teve, na amiga que acha que está tirando vantagem, nos dias livres que estão por vir, nas viagens que não conseguirá fazer, nas desculpas que dará, nos abraços que ficarão guardados, nos beijos que nunca serão selados, e na porra da Neosaldina que tirou seu sono pelas próximas horas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

sessão de domingo

Fernanda levantou ainda meio chapada e foi ao banheiro sem lembrar muito bem do que estava rindo. Quando fechou a porta, se olhou no espelho e sentiu aquele ventinho frio de fim de Outono. Lembrou-se de um filme a que assistiu, no qual uma personagem perguntava para outra se o Verão mexia com a sua libido.

Olhou bem direto sua imagem e se deu conta de como o frio a faz pensar diferente.


sábado, 11 de abril de 2009

episódio 01

Clarice acordou hoje de ressaca, com as lágrimas do sonho ainda na garganta, olhou pela janela e viu o céu. Azul. Azul sem nuvem, sem gaivota, sem barulho. Azul. Cogitou levantar e em um segundo desistiu. Pensou que era cedo demais e acabou pegando no sono.

Quando Clarice resolveu se levantar parecia ser tarde demais. E ficou sem saber o que ia fazer com tanto azul daquele céu. Aí ela percebeu que já tinha visto outros céus talvez até mais azuis do que este, mas que hoje até o esmalte das unhas dos pés parecia mais vermelho e bonito.