quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

vou festejar

Todos os dias desse ano. Os bons e os ruins. Os curtos e os longos. Vou festejar todas as festas, sorrisos, beijos e carinhos. Todas as lágrimas, angústias e saudades. Brindar todos os encontros programados e mais ainda os inesperados. Rir de todas as mágoas. Chorar de todas as bençãos.

Renovação total. Mudanças, desafios, dúvidas, lições pra encararar mais um turno. A ilusão de um ano novo que ajuda no reinício, motiva e inspira.

Vou festejar então.
Por ter experimentado a vida e a morte.
Por ter conhecido pessoas incríveis.
Visto lugares maravilhosos.
Por ter reencontrados sentimentos esquecidos.
Pessoas que estavam tão perto e tão longe.
Por ter conhecido a felicidade em estado bruto.
Por ter me decepcionado.
Mais uma vez e sempre.
Por ter me apaixonado, mais de uma vez.
Por estar apaixonada.
Por estar amando.
Por estar vivendo.
Vou festejar e chorar nesse fim de ano.
E me lembrar de tudo o que senti, provei, aprovei e reprovei.
E vou festejar tudo que ainda está por vir e o friozinho na barriga que dá não saber exatamente o quê.

2010.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

flor

Quando Clarice não achava possível que pudesse existir algo assim, descobriu que havia alguém além dela que podia entender o quão chato é ter que se repetir. Mais ainda, como as pessoas podem se tornar tão incômodas e irreconhecíveis de um dia para outro, como se falassem um idioma desconhecido e impossível de ser traduzido. Pela primeira vez, reconheceu em outra pessoa o desfrute da conquista e a repulsa ao prêmio vencido. Aliás, há de ser ressaltado: quanto mais árduo o combate, maior a indiferença após a vitória.

Não obstante o falatório geral, não houve santo que tirasse da cabeça de Alice que as histórias que corriam por aí tinham um quê de mal contadas. E, então, descobriu que não era bem assim que a banda tocava. Literalmente. Ademais, em favor das duas e em desfavor do restante, encontraram-se em uma sintonia talvez inédita. Três passos para frente, um para trás, sempre com um pézinho fincado em terra firme, foram aos poucos aparando arestas invisíveis. Quando se deram conta, passaram a confidenciar o que até então foram levadas a crer serem banalidades.

Clarice e Alice.
Não têm paciência para a inércia, mas muitas vezes se acham incapazes de sair dela.
Não sabem se compram uma TV ou se andam de bicicleta.
Juram que lealdade e fidelidade não são a mesma coisa.
Têm vontade de sair correndo quando ouvem uma música que amam.
Querem ficar sós, mas se sentem como um cão sarnento por acharem que não têm amigos.
Se apaixonam rápido e se desapaixonam mais rápido ainda.
Fazem as pessoas se apaixonarem por elas. E juram que não é por querer.
Provocam amor e ódio simultaneamente.
Estão sempre em ponto de ebulição.
Detestam o óbvio.
Atraem-se pelo excêntrico.

Clarice e Alice.
Separadas no nascimento?

(F)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

dois cafés com açúcar

Fernanda andava distraída pelo centro da cidade, o olhar velado pelo hábito. Olhou e não viu. De repente, voltou atrás. Virou para o lado direito e entristeceu ao ver o bar em obras. Chegou a por a mão na bolsa à procura do telefone, os dedos coçando para discar para ele, mas não podia.

Era prali que eles fugiam depois do almoço, tomavam um café requentado que ele teimava em dizer que era o melhor dos arredores e fumavam um ou dois cigarros, quando tinham um pouco mais de tempo. Falavam sobre tudo, sobre nada, se amavam e se odiavam.

Foi ali que ela se sentou pela primeira vez com ele, quando ainda nem sabia andar pelo centro. E deu uma tristeza saber que além deles, o bar também não iria mais existir, não da mesma forma que antes.

Ela se deu conta, então, de que fotografa lugares por onde passa, guarda reportagens que lê, decora letras de músicas inteiras, compra livros e assiste a filmes sempre que tem vontade de estar com ele, numa tentativa vazia de compartilhar sozinha um momento deles dois.

Uma maneira leviana de matar as saudades.

E de sentir, por um segundo que seja, aquela completude que só ele proporcionava.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

por onde anda minha Tereza?

Tereza não acredita nas coisas que ele diz. Ainda não tem certeza se faz isso por não querer aceitar que ele é mesmo diferente dela, por achar que ele é ainda muito novo ou porque talvez ainda não tenha podido ser ele mesmo. Amarras das quais se livrou há tanto tempo que já não se lembra mais de como era ter que se preocupar com o que os outros pensam.

Ela busca no desvio do olhar que ele dá quando se encabula uma nesga de verdade. Acha. E vê que ele se desconcerta, que ela o faz cair desse pedestal que ele construiu para ser notado, mesmo que somente pelos espelhos que projeta de todos os lados.

Tudo que ela pensa é em como ele seria mais alto e mais bonito daqui de baixo. Mais verdadeiro e menos vulgar. Menos forçado, menos banal.

Tereza gosta do jeito que ele morde o lábio de baixo quando pensa em beijá-la. Ela sempre pisca de leve o olho esquerdo só pra ele se certificar de que ela o entendeu. Ela gosta da virilidade do corpo jovem, do jeito sem jeito que ele reage quando eles se esbarram, jamais sem querer. É isso.

Tereza adora o jeito como eles fingem coincidências.