domingo, 28 de fevereiro de 2010

pois é

Quando eu era garotinha, minha mãe sempre me dizia: 

"O QUE É DO HOMEM O BICHO NÃO COME."

É.
Eu devia ouvir mais a minha mãe.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

querida alice

Queria ter te escrito ontem, mas o calor não me deixou. Não que agora não faça calor, faz e muito. O sol tem nascido antes das 6 e nem estamos mais no horário de verão. E já que estamos falando do tempo, como me faz mal o verão! Não que me faça mal, mas bem algum me faz. Não consigo me concentrar, tudo parece se embaralhar com esse mormaço. Sinto, às vezes, o vapor que meu corpo exala, antes de a pele ficar grudenta como uma jaca. Rezo para que a chuva venha, ao menos para refrescar meu rosto, mesmo que da janela da sala. E rezo mais ainda para que o inverno chegue, eu possa me acalmar e sentir prazer novamente em ficar em casa lendo. Porque nesse inferno no qual estamos vivendo os últimos meses, não sinto vontade de nada.

Falando então nos últimos meses, penso agora nas últimas semanas. Quem sabe até nos últimos dias. Ou nas últimas horas. E sabendo que ninguém irá entender o que se passa, então digo a você: sinto uma incrível não necessidade de falar. Estou naqueles dias que existir basta. Que ninguém tem absolutamente nenhuma importância. 

Só um parêntese. Adoro quando me dizem que, para mim, as pessoas são descartáveis. Simplesmente amo. Amo a superficialidade com que as coisas são vistas. Amo perceber o egoísmo do outro. Enquanto estávamos ao lado, que valor tínhamos? O problema é que não entendem que nós cansamos. E quando cansamos, tudo vira nada. 

E nessa não necessidade de dizer, falar, cuspir, gritar, vomitar, etc, me pego aqui com você. Paradoxal, mas você entende. Acho que, na verdade, tento assim garantir que alguém me segure quando esses dias passarem, porque sei que, no meu caso, a bonança antecede uma tempestade.

Me dá de presente galochas, uma capa e um guarda-chuva? Prometo que te empresto quando chover em você.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

o louco

 

 "Eu sou Nada, posso vestir qualquer forma,
a forma de um rei ou de um vagabundo,
a forma da juventude ou da velhice,
a forma da estupidez ou da sabedoria.
Minha mochila está vazia.
Minha mochila contém o Céu e as estrelas,
o Sol e a Lua,
o mar, as florestas, as cidades com seus moradores
e o vento que vem do mar,
o vento onde voam os pássaros
e o vento de Luz, que vem das galáxias.
Não sei nada, o Universo é grande demais.
Eu compreendo sendo.
Para compreender o rei eu sou o rei,
para compreender a vida sou a vida,
para compreender o amor, amo.
Para compreender o relâmpago, eu caio do Céu,
para compreender o fogo, danço a dança das chamas,
para compreender você, sou você.
Para compreender o Divino, entro em comunhão.
Podem latir os cachorros e morder.
Podem morder as minhas roupas.
Não podem morder o Nada que eu sou."

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

quarta de manhã (v. Clarice)

Esperou por tantos anos que não se lembrava mais se era verdade ou não. Ele se impressionou com as pequenas coisas das quais ela se lembrava. Se assustou com as grandes coisas que ela o fez sentir novamente. Se esforçou para não se deixar apaixonar por ela mais uma vez, depois de todo esse tempo e de já ter conseguido se tornar indiferente àquele fogo que ela lhe acendia.

Clarice era apenas Clarice. Enroscando os braços ao redor do pescoço dele como numa noite de inverno.

quarta de manhã (v. Fernanda)

Olhando as estrelas pela janela, sentindo o suor dele escorrer por suas costas, ela previu todo o louco futuro de delícias que eles iriam viver.

Faltou-lhe ar, o peito esvaziou, até seu último suspiro se escondeu de medo. Se amariam profunda e arduamente, num misto de obsessão e desespero.

Por um segundo fechou os olhos tentando fugir do que via, cristalino. E, como já conhecia essa história, passou a mão em suas coisas espalhadas pela sala e foi embora sem deixar nem um olhar de adeus.

quarta de manhã

Ele tinha um jeito diferente de dormir. Inédito pra ela. Esperou que virasse de costas pra ele pra acomodar suas costas nas dela, apoiando o braço em seus quadris e repousando a mão em sua coxa direita. 

Do chão ela podia ver as estrelas que iluminavam a noite e sentir o vento fresco que invadia a sala. 

Sem espaço pra mais nada a não ser os dois, Tereza fechou os olhos e dormiu, enfim, pela primeira vez, nos últimos quatro dias. 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

segunda de manhã (v. clarice)

Amanhece e ele ainda tem confetes nos cabelos. Amanhece e ela sente a marchinha no peito. O dia começa sem acabar e eles ainda têm a sensação do calor do último abraço. O perfume do pescoço dele deixou um rastro no vestido dela, o vestido que ela pendurou no armário escondido no meio dos outros para tentar contaminá-los. O dia se ilumina, amanhecer lilás aqui, vermelho lá, o mesmo sol, que banha o mesmo mar, que conecta os dois. Ele encantado com tudo o que vê. Ela obcecada por tudo que sente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

segunda de manhã (v. tereza)

Amanhece e ele ainda tem confetes nos cabelos. Amanhece e ela sente a marchinha no peito. O dia começa sem acabar e eles ainda têm a sensação do calor do último abraço. Ele ainda sente ela descendo das pontas dos pés apoiando as mãos nos ossos de seus ombros, mordiscando o cantinho da boca tentando fingir um não sorriso. Ela tenta se lembrar de como era o gosto da saliva dele, mas ele fez tanto pouco caso dela antes de ir, que fez questão de esquecer.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

segunda de manhã

Amanhece e ele ainda tem confetes nos cabelos. Amanhece e ela sente a marchinha no peito. O dia começa sem acabar e eles ainda têm a sensação do calor do último abraço. O perfume do pescoço dela deixou um rastro na camisa dele, a camisa que ele vestiu o travesseiro assim que chegou. O dia se ilumina, amanhecer lilás aqui, vermelho lá, o mesmo sol, que banha o mesmo mar, que conecta os dois, que choram de suave e inesperada felicidade.