quinta-feira, 26 de agosto de 2010

tá, tudo bem.

Se eu tivesse acordado mais cedo, talvez tivesse conseguido alcançar seu pensamento. Poderia ter sido um pouco cedo demais, para os dias comuns, mas, para nós, atipicidade é só mais um nascer do sol.

Seria menos doloroso não saber que aquele era o nosso último bom dia. Sem beijo de despedida, sem aceno de adeus. Poderia ter inspirado uma vez mais os fios de cabelo perdidos na sua nuca. Acho que teria preferido roçar meu rosto e afundar meu nariz nos cabelos do seu peito.

Ali, bem no meio onde encontro seu cheiro e gosto tanto de me aninhar. Quem sabe você não tivesse mudado de idéia? Ou não tivesse ao menos prolongado um pouco a manhã. Eu seria alguns minutos menos desilusão.

Eu te chamaria para perto e prometeria mais uma vez que tudo vai dar certo. Eu deixaria de ser tudo que eu sou, nem que fosse por um dia. 

Não usaria suas samba canção para dormir, nem roubaria seu último pedaço. Sem demoras para escolher a roupa, sem pedir para você comprar chocolate depois da meia noite. Não reclamaria que você está fumando demais, mas isso só por uma semana na melhor das hipóteses. Não ouviria mais algumas músicas só para te irritar, confesso. Não lamberia mais o sal da pipoca, nem deixaria o prato do jantar embaixo do sofá. 

Também não reclamaria do seu jeans encardido, nem das suas mensagens monossilábicas, não esqueceria de buscar a correspondência, não roubaria o edredon. Sem TPM e cólica por 3 meses. Compraria o pão todo domingo de manhã, tomaria feliz seu café ralo, não falaria que seus sapatos precisam engraxar e prometo não reclamar da comida da sua mãe.

Pensando bem. Talvez seja melhor você seguir. 
Eu não vou fazer nada disso mesmo. E sei que você gosta.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

and everyday you remind me how I'm desperately in need


Apesar de tudo, poderia passar a vida provando do teu veneno; ele fazia com que eu me sentisse alerta e viva. À beira de uma síncope, da perda dos sentidos, de um colapso, sempre à beira de. Em cada dose, uma cicatriz, uma tatuagem, uma marca para lembrar e carregar para sempre, e um rastro dessa substância viciante que me contaminava do bem e do mal. Que me deixou para sempre vestígios que não me deixam esquecer o que é um amor lancinante e fatal. Cada dose que deixou reservas escondidas em mim que eventualmente se liberam em gotas que ardem e adormecem meus sentidos, e diluem-se ao longo de dias que se estendem em noites sem fim. Malditos dias de solidão compartilhada à distância.
Mergulhos em lembranças de momentos que se escondem da rotina para não a transformar em suplício. Sonhos sem cheiro, para não acordar com o gosto da derrota de mim mesma ao me dar conta do quanto isso faz parte do meu dia a dia. Sem ver o que pode acontecer se eu continuar a me preocupar com isso, levando a vida sem a tensão, mas tampouco sem nossos delírios. E que delírios são esses se os vivíamos juntos?