quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ano que vem.

Pois é. E foram cinco anos nessa vida enganada. Aceitei sua proposta para tentar garantir minha liberdade. Achava que fosse essa talvez a última chamada para o futuro. Não que no início não amasse. Amei. Amei demais até. Amei o início, amei o que vi, amei vários no caminho. Talvez por motivos que nunca admita de tão óbvios que de repente perderam o sentido. Uma dívida que não precisava ter assumido, mas que decidi encarar por simplesmente acreditar não haver outra saída. Precisava ser livre. 

Quem sabe se eu tivesse alguém pouco mais forte ao meu lado para me segurar o braço e dizer que talvez fosse precipitado demais decidir naquele momento. Acontece que a pessoa mais forte naquela época era eu mesma em pedaços. É triste, mas essa vida é minha, lhe peço perdão. Se eu não vivê-la, quem terá o direito de fazê-lo?

Se não inspirar sozinha, expirar meu ar, o que sai de mim, o resultado das minhas sinapses, sintaxes, osmoses e mesóclises, quem poderá? Se eu não digerir o alimento que escolhi engolir, mas uma farinha sem cor, gosto, nem vida, que energia será essa a me preencher? E se eu não amar o que me move, se não puder me admirar, mas tiver que me contentar com a satisfação daqueles que, se me amam, me condenam? 

Não sei se posso ser completamente eu. Sei que não sou exatamente eu. E me ameaço diariamente a uma condenação unânime e sem recursos em que sou meu próprio júri, meu juiz e meu comparsa no banco dos réus. E penso quantos dias mais permanecerei encarcerada em minha própria vida e inerte ao mundo que me engole sem piedade. Que me deixa à margem das minhas decisões e me pressiona cada segundo mais tentando fazer com que eu me dê conta de que estou morta em vida e que dentro de mim urge uma enorme vontade de viver essa vida anestesiada que já vejo sem amor.