quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

medo da chuva.

Ao navegar sobre as ondas se está diante de um abismo que proporciona uma queda maior do que do topo do Himalaia. Estou chutando. O que importa é compreender a velocidade da descida. Pular de montanhas é rápido, perigoso e fatal. Ao se decidir mergulhar para alcançar essa profundidade, o trajeto será muito mais lento, com certeza muito menos prazeroso e, certamente, se chegará ao fim sem esgotar o percurso. Acho que minha lista de montanhas está acabando.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

por um momento meu canto contigo compactua.

E semana que vem, eu pergunto, Como você está. Você diz, Tomara que vivo, pra te cobrir da cabeça aos pés. E, naquele momento, eu só pensava em ler o marquês na reentrância das suas coxas, esperando o eclipse chegar pra ver se a luz baixava o suficiente pra eu te decifrar na penumbra.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

me faz esse favor.

Se não houvesse tanta agonia. Talvez você seria uma possibilidade. Para me atormentar, bastam os meus dramas crônicos, as minhas vidas cruzadas, a minha disciplina inferior, o meu bosque de ilusões perdidas. Se não houvesse tanta aposta. Eu deixaria todo o otimismo para você. Para me confudir, já tenho a minha disciplina crônica, os meus dramas cruzados, o meu bosque inferior e as minhas vidas de ilusões perdidas. Se não houvesse tanta promessa. A minha crença passaria a ser no sentido que o mundo gira. Para me dispersar, tenho uma lista de bosques crônicos, minhas disciplinas cruzadas, minha vida inferior, meu drama de ilusões perdidas. Se fosse suficiente ser eu. Não seria tão trágico me importar com o adeus. Para me amar, me perseguem minhas vidas crônicas, meus bosques cruzados, meu drama inferior e minha disciplina de ilusões prá lá de perdidas.

nem sempre se vê lágrima no escuro.

E parando mesmo para pensar, nunca teríamos nos encontrado se uma vírgula desse passado de misérias tivesse sido mudada. Eu vi no clarão do raio que caía sobre o topo da minha montanha obsessiva de perguntas sem respostas. Se vou guardar essa claridade, só Deus sabe: foi ele quem fez chover.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

tito.

Nasceu um menino franzino, daqueles que chega a dar um certo dó quando a gente abraça um pouco mais forte. Desde novinho, era chamado de Tito, muito em razão da irmã, Graça, que por nada nesse mundo conseguia dizer seu nome. Às vezes, até ele mesmo se esquecia de que era apenas um apelido. Chegou o dia em que foi Bentinho, Tomas, Aureliano, Mersalt, José, e até Cora, Fermina e Raimunda: tentava encontrar a vida que lhe foi negada e seu pai não entendia o motivo de tanto tempo perdido com os olhos afundados em palavras destituídas de verdade, imerso numa realidade inventada por indivíduos escondidos em ilusões vividas em uns pedaços de papel rodeados de cinzeiros entupidos de guimbas manchadas de uísque.

domingo, 5 de dezembro de 2010

selos, pinguins, papéis de carta e outras coisinhas mais.

Caguei baldes para sua coleção de vinis. De que adiantou o café na cama, as mensagens de afeto, me contar que falou de mim para a sua mãe e que seus amigos não viam a hora de conhecer de perto a mulher por quem você estava apaixonado. Dessa vez. Foi isso que você esqueceu de me contar. Que na verdade eu era só mais um objeto da sua paixão, dessa sua necessidade pagã de canalizar seus desejos frustrados para um salvador hipotético. O que não passava da libertação de uma infância da qual você não consegue e não deseja escapar porque definitivamente é muito mais fácil quando nos ainda é permitido cometer erros primários. Ainda não sei se no fundo queria ou não exercer esse papel. Talvez tenha me desapontado por não ser mais relevante do que qualquer outra coisa que te acolhesse. Meu orgulho foi absolutamente ferido, isso é fato. Mas no fundo eu não ia aguentar servir de alavanca para o seu sucesso, enquanto a minha vida passaria a ser acompanhar a sua trajetória e mergulhar fundo num oceano de fracasso. Não ia demorar muito para eu me cansar de te entender e relevar seus traumas e mazelas, quem sabe até como forma de tentar esquecer os meus problemas. Faz assim então, guarda aquele poema que eu te dei e começa uma nova coleção: de versinhos medíocres roubados de outros amores para conquistar farsas patéticas como você.