terça-feira, 26 de julho de 2011

my knight in shining armor.

Quando eu vim para esse mundo, ganhei uma espada para lutar e um escudo para me defender. Quando eu era menino, ainda muito pequeno para entender a utilidade de coisas tão grandes, me escondia sob o escudo e fazia dele um castelo em formato de cogumelo gigante. Ali eu guardava uma vitrola antiga e umas histórias de contar que trazia mais na memória do que nas páginas que folheava sem compreender. Um dia, eu percebi que meu castelo não me protegia mais. Meus pés ficavam para o lado de fora, se queimavam com o sol do dia e se molhavam de chuva no fim da tarde. Eu era achado com facilidade por aqueles que preferia esquecer. Não conseguia mais deixar a lama do lado de fora e minha fortaleza precisou ser derrubada. Eu ainda era muito pequeno para trazer a espada em riste e descobri que a manter alinhada ao meu corpo era bastante eficaz para amedrontar alguns. Passei muito tempo parado, mais servindo de apoio do que sendo apoiado, e, por fim, percebi que precisava andar. Arrastei por muito tempo aquele peso sem saber mais uma vez qual a serventia daquilo tudo. Foi quando um dia, exausto, cheguei num beco sem saída. Embora ainda não tivesse força nem tamanho suficientes para empunhar a espada, os calos que minhas mãos já exaltavam me deram apoio para desbastar os espinhos e o caminho se abriu. Desde então, muitos vieram comigo, todos desistiram. Muitos me deram o braço e disseram, vamos, mas nunca dividiram o peso das armas comigo. Outros me viram cair e disseram, levante, mas não se dispuseram a cuidar das feridas do meu corpo. 

E eu ainda me culpo de pensar que lutar é para os fracos: os fortes seguem na sobra.

domingo, 24 de julho de 2011

they got a skin and they put me in.


Não é que eu não acredite, mas quase não sei dizer o porquê de tanta dúvida. Talvez seja o sol que não brilha mais da mesma forma, ou o cheiro da manhã que não se apresenta mais tão ocre. Li todos os livros que tinha na estante disponíveis para o amor e ainda me encontro perdido numa pilha que cresce e cresce sem tamanho para um infinito de poesia e dor que me sufoca. É um medo de não conseguir decifrar tudo o que se esconde entre as palavras o que me devora. Eu não tinha mais idade para fugir de mim mesmo quando percebi que o outro era eu em encontro ao navegar da vida. Se hoje eu não sei o que sou, não foi por mim, mas por aquilo que deixei de ser há muito tempo, já lá atrás dos tempos idos que não se foram completamente, mas que, sim, persistem e insistem em me esconder do que realmente desejo. E se não fui o que efetivamente desejei, não foi por mim, mas por aqueles a quem jurei devoção eterna. Enquanto esses se jogavam na vida que eu propiciei, eu, em mim há tanto perdido, me esquivei de minha real devoção e me escondi entre o pó e a fadiga de ser um quase nada de mim que se jogou às trevas da solidão. Tanto tempo longe desse eu, que hoje, ao me enfrentar sofro um distúrbio resultado de um conflito com o sempre e com o agora, enquanto o agora já há muito deixou de ser o sempre. Desse estado quase inerte eu me jogo ao meu tudo que se revolta como um vulcão de inimizade com o meu mais profundo conflito, uma jornada de terríveis percursos àquele que eu não reconheço mais ao olhar no espelho do quarto. Sou eu, eu penso, sou eu que me encontro ali, mas que rosto é aquele que eu não sei de quem é? De quem é a vida que aquele rosto transparece, e de quem são as rugas que eu estampo no reflexo longínquo que não entendo como meu? Se eu não sou o que vejo, o que serei então um dia quando eu puder me ver inteiro no espelho da manhã que não sinto mais amarga? Seria um vestígio do ontem e o prenúncio do amanhã, mas sem cortar o mal que converge num até amanhã? Eu me pergunto se o que eu deveria te dar é o meu eu de antes ou esse meu eu de agora, esse que você ressuscitou. Essa beleza que te encanta, qual é?, a dos dias de ontem ou a dos que nasceram após a sua chegada? Enquanto eu não puder me corrigir do desespero de ser um suporte invisível àqueles que trouxe ao meu cuidado, eu provavelmente não serei capaz de te enxergar como um todo que me pertence, pois é difícil aceitar que alguém por fim tenha me trazido à tona desse naufrágio que me isolou durante todo o tempo que conheço de vida. É difícil ser o que já tinha me esquecido sem trair aquele que construí de mim, sem me punir por abandonar não os outros, mas talvez esse meu eu recortado de necessidades alheias e aceitar que hoje é você que me constrói os dias mais lindos que já vi. Hoje eu sou visto de dentro, por olhos crus que não me temperam com seus próprios desejos. Não é que não acredite, mas quase não sei dizer o porquê de tanta dúvida.