domingo, 27 de novembro de 2011

sábado, 26 de novembro de 2011

metade da terceira conversa.

- Jesus Cristo. - Ela passa a marcha com uma violência impressionante e fica sem falar comigo durante um tempo. Sei que quase chegamos a algum lugar; sei que se tivesse coragem eu diria a ela que ela estava certa, que ela sempre tinha razão e que eu precisava dela e a amava, e teria pedido que ela se casasse comigo ou algo assim. Só que, sabe como é, quero manter minhas opções em aberto, e de qualquer forma não há tempo, porque ela ainda não terminou comigo.

- Sabe o que realmente me incomoda?

- Sei. Todos esses troços que você acabou de me contar. A respeito de como eu mantenho minhas opiniões em aberto e tudo o mais. 

- Fora isso.

- Puta que pariu. 

- Eu consigo lhe dizer exatamente - exatamente - o que está errado com você e o que você deveria estar fazendo a respeito, e você não conseguiria nem chegar perto de fazer o mesmo por mim. Conseguiria?

- Sim.

- Comece, então.

- Você está farta do seu emprego.

- E isso é o que está errado comigo, não é?

- Mais ou menos.

- Está vendo? Você não tem a menor idéia. 

- Dê-me uma chance. Acabamos de voltar a morar juntos. Provavelmente descobrirei alguma outra coisa nas próximas duas semanas. 

- Mas nem mesmo farta do meu emprego eu estou. Gosto bastante dele, na verdade.

- Você só está me dizendo isso pra me fazer parecer idiota. 

- Não, não estou. Gosto do meu trabalho. É estimulante, eu gosto das pessoas com quem trabalho, já me acostumei ao dinheiro... mas não gosto de gostar disso. Fico confusa. Eu não sou quem eu queria ser quando cresci.

- Quem é que você queria ser?

- Não uma mulher de blazer, com uma secretária e de olho numa sociedade na firma. Eu queria ser defensora pública com um namorado DJ, e está tudo dando errado.

- Então vá arranjar um DJ pra você. O que é que você quer que eu faça?

- Não quero que você faça nada. Só quero que você entenda que eu não me defino inteiramente pela minha relação com você. Quero que você entenda que só porque estamos esclarecendo as coisas entre nós, não quer que eu esteja ficando esclarecida. Tenho outras dúvidas e preocupações e ambições. Não sei que tipo de vida eu quero e não sei em que tipo de casa eu quero morar e a quantidade de dinheiro que estarei ganhando daqui a dois ou três anos me assusta e...

- Você não podia ter desembuchado isso logo de cara? Como é que eu ia adivinhar? Qual o grande segredo?

- Não há grande segredo. Estou simplesmente salientando que o que acontece conosco não constitui a história toda. Que eu continuo a existir mesmo quando não estamos juntos.

Eu teria descoberto isso sozinho, no final. Teria visto que só porque eu fico um pouco fora de foco quando estou sem parceira, não significa que isso aconteça com todo mundo. 

Alta fidelidade, Nick Hornby.