tag:blogger.com,1999:blog-31846289389890026972024-02-02T20:04:38.974-03:00. l i b e r t a d .Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.comBlogger176125tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-36414130164433900122015-01-22T14:38:00.002-02:002015-01-22T15:03:51.027-02:00minha cabeça trovoa. sob meu peito te trovo e me ajoelho.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">não sabia o que eu ia fazer em santa cecília. só sei de um jeito de resolver isso. eu vou, algum dia, de qualquer maneira, seja em que configuração for, eu vou, eu não posso deixar de dizer o que me leva aos dias mais lindos. eram sombras entrecortadas que cruzavam e mostravam qual caminho seguir e subimos. achei que aquele caso nunca iria acabar. me lembro de trechos apenas, algumas frases soltas que amarrei de algum jeito sem pé nem cabeça, mas que pra mim conta a história que eu estendi pra tantos outros dias e não sei mais quando terminou. quando vai crescendo e tudo despenca lá do alto, eu ainda estou vendo as coisas daquela altura. eu nunca desci. não distingo chances mínimas daquele ter sido o diálogo que mudou um mundo inteiro de possibilidades. foi uma vida inteira em uma hora. um hora que passei lendo e vendo as coisas acelerarem e me vi inteira, uma coisa de não caber dentro do que a gente entende por corpo. eu olhava a luz mudar, ela aumentava, as folhas não, eram menos sombras a essa hora. fui acompanhando a claridade aumentar de frente pro seu rosto, eu gostava de ver como você sorria e faziam duas linhas embaixo dos olhos, uma em outro lugar, um vinco de cor. era discreto o jeito que você se escondia atrás dos óculos transparentes. era vidro, cuidado, subia. sabia que a maior parte do tempo líamos o mesmo trecho do livro, mas eu confesso, trapaceei. pulei uns pedaços, eu não queria esperar, eu sabia que era só. notei quando você chegou na parte que tudo começava a acontecer, a completude, o todo de novo, mas eu já sabia qual era o desfecho. de alguma forma que até hoje não sei você percebeu. percebeu que não ia continuar, porque eu não sabia mais porque estava ali. eu acho que sei, foi a hora que seu olhar baixou e você disse vamos agora. eu sei. </span><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">contornos
de depois são formas vivas da curva que perde os rios no encontro. são
coisas que não passam de coisas outras, coisas suas, coisas minhas que
parecem não deixar de insistir que o começo do vão não toca a porta. de
saída, quando o dia era vivo, como o gemido do teu gozo, tua pretensão
não percorria o círculo perfeito dessa redoma. a construção é firme, foi
longa, pesada, invisível. peitos abertos por faca, fórceps, machado,
afastador de costelas, vivos, menos que os gemidos, mais que os
suspiros, mas sendo mais vivos que eu e menos silenciosos que você, assim podia.
quantas folhas de parreira fazem a borda da toalha? quando cobri a mesa
pra te servir, senti a lâmina me penetrar, seca, pálida e fria,
alastrando em todo o meu corpo seu fel. minha boca sentia um amargo
amarronzado, apimentado, me questionando. eu sou a pior coisa que pode
te acontecer, eu sei, eu sou o corpo da sua matéria preferida, eu sei,
eu te preencho. queria que esse dia rodasse ao contrário e que a flecha
que agora fere apontasse pro fim.</span></div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-21210918782743807392015-01-18T00:31:00.000-02:002015-01-18T00:36:31.634-02:00me obrigue a viver pra eu planejar.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">.dava pra te ver do lado oposto. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Foram
alguns segundos que me levaram para aqueles outros 30. Um pouco menos
talvez. Tinha perdido segundos, segundos partidos, quentes, entre uma
passada e outra, eu fui. Quando o nosso pensamento se desloca, é difícil
manter uma linha reta na calçada. Às vezes pra esquerda, às vezes pra
direita, paro muitas outras, desvio de buracos, merda de cachorro,
pessoas, todas elas. Me obriguei a contar os segundos porque queria
chegar mais rápido. E o tempo parou. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.e eu não duvidava que gostava de você. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;"><br /><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Me
lembrei de que estava apaixonada. Por alguns segundos às vezes a cabeça
vira de um jeito que a gente se esquece de coisas simples. Não é o
caso. Talvez eu tenha me permitido esquecer por um pouco mais que isso. E
de repente tinha me esquecido por completo. Por um mundo mais
emocionante, você diria. Não é tão difícil, você diria. </span>A gente vive com medo de viver. Vive sim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif; font-size: small;">.era o movimento que sobrava pra fazer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Ela
tava suada. Saca? Foi um momento em que tudo no universo se certificou
de apresentar nela certas coisas. O azul do vestido, amarrotado, uma
alça quase caída, os tornozelos cobertos por canos cor de caramelo. Quem
usa canos altos em dias tão quentes? A mochila, poída, me fez lembrar
uma que eu tive quando ainda não te conhecia. Foi isso o que primeiro
reconheci de mim em você, mas você não entendeu. Você, que não sei,
nunca me reconheceu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.me obrigue a ficar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Você
está sempre pressupondo que ela vai evoluir pra um outro estágio.
Evoluir no sentido de ir 'para' um estágio... É porque tem a ver com
sexo, né, com cumplicidade. Negociar as coisas que vão acontecendo. Não é
com o fim nela mesma. Se espera um outro estágio. A gente não esquece
nunca o quanto é importante a gente se encontrar. Requer outros toques,
outras entradas, que precisam do convívio, do convívio físico. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.deixa a música tocar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Essa
cara de atitude é que é foda. De que vai tirar a roupa e correr pra
dentro do mar, não sem antes me obrigar a fazer o mesmo. Eu fui. Não
quero entrar, morro de medo, afogamento também, mas ataques de tubarões
com dentes afiados principalmente. Desses que arrancam um pedaço que
continuo sentindo mesmo muito tempo depois. Tem um nome pra isso.
Esqueci.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.pede alguém pra te ajudar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Lembra
daquele dia que a gente *? É, aquele dia que a gente *. Como assim,
você não *? Você pediu pra eu te ajudar com *. Me perguntou mil vezes se
*. E depois disse que também *, não entendi porque perguntou então. De
que adianta você me dizer que *, que não *, que estava *? Sério, não te *
mais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.me obrigue a beber pra eu desmaiar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Não
lembro ainda. Só sei que foi uma coisa boba, estava segurando algo,
precisou trocar de mão, um cacho fugia do emaranhado que prendia os
outros tantos no alto da cabeça deixando o pescoço à mostra. O nariz
arrebitado, eu me lembro, disso sim, quando sabia quantas vezes ia me
perder por causa disso. Engolia, não vinha nada. Areia. Sabia que não
sairia ileso daquele mergulho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.não quero sofrer nessa promessa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Eu
não queria concordar com todas aquelas coisas. Foi só porque eu não
sabia como lidar com tanta coisa junta, eu não queria fracassar em mais
uma coisa. Eu queria garantir, na minha cabeça vazia, eu não queria
morrer. Foi uma questão de sobrevivência, sabe? Eu não queria na
verdade. Não sei mais. Acabou.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.não vai dar na mesma.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">Foi
o momento em que todos os fatores se alinharam. E que provavelmente a
resposta dela para isso fosse, Mas eu tô toda desgrenhada. Nunca
entendi essa palavra, na verdade. Eu só enxergava o significado dela.
Tinha a ver com agora, tinha a ver com antes, mas nada com o depois. O
depois de eu ir, o depois de agora, que não quero lembrar, não quero
nada, só queria que esse momento parasse e ele parou. O conjunto foi tão
impressionante. Foi o olhar dela que me pegou. Só que provavelmente foi
o melhor momento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: small;">.pode me trancar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif; font-size: small;">E eu roubei ele pra mim.</span><br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif; font-size: small;"><span style="font-size: x-small;">Celo e Carol <3></3></span></span></div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-33685872694210224312013-08-05T13:21:00.000-03:002013-08-05T13:24:01.926-03:00para todos.sem alma<br />
semblante<br />
<div>
sublime</div>
<div>
amante</div>
<div>
amargo </div>
<div>
há mais</div>
<div>
capaz</div>
<div>
desfaz</div>
<div>
destino</div>
<div>
sabido</div>
<div>
sorri<br />
caí.</div>
<div>
amparo</div>
<div>
disparo</div>
<div>
(não quero!)<br />
me calo</div>
<div>
me julgo</div>
<div>
apuros</div>
<div>
há furos</div>
<div>
alheios</div>
<div>
anseios</div>
<div>
anulo.</div>
<div>
me vingo</div>
<div>
pingo</div>
<div>
peço</div>
<div>
esboço</div>
<div>
extraio</div>
<div>
ex maio</div>
<div>
desmaio</div>
<div>
esgoto</div>
<div>
gasoso</div>
<div>
desprezo.</div>
<div>
amparo </div>
<div>
disparo</div>
<div>
(tão caro!)</div>
<div>
me levo</div>
<div>
me valho</div>
<div>
avaro<br />
encaro</div>
<div>
não paro.<br />
tristeza<br />
destreza<br />
riqueza<br />
destruo<br />
concluo<br />
quem nunca<br />
maluca<br />
maléfica<br />
idêntica<br />
autêntica<br />
autônoma<br />
programo<br />
a trama<br />
a treta<br />
malfeita<br />
magrela<br />
mazela<br />
(é dela!)<br />
maldita.</div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-4094465570085390252012-10-12T21:11:00.000-03:002012-10-17T00:41:42.469-03:00de dia lágrimas à noite amantes.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Moro no décimo quinto andar de um prédio de fundos numa rua embolada de outros tão altos quanto o meu. Cercado de muita gente e seus diversos e ilimitados sons, eu vivo só, nesse apartamento justo demais para duas pessoas. No caso, somos eu e meu piano que habitamos há alguns meses esses 45m². No inicio, eu me incomodava com tanta gente falando, brigando e se amando o dia inteiro; o movimento não pára nunca, é um entra e sai constante de pessoas de todas as idades e personalidades, é difícil um período de completo silêncio durante mais de uma hora. Ainda sinto falta daquele som que acontece quando nada soa ao redor; nessas horas eu consigo parar de pensar em tudo, a única coisa que me vem é que estou vivo, e regulo meu estado de espírito de acordo com a velocidade que meu coração bate, vezes mais rápido, vezes mais devagar, outras parece quase não bater. Algumas vezes, não muitas, isso acontece, entre quatro e cinco da manhã, o que me força invariavelmente a deitar com o céu claro. Isso me obrigou a instalar um <i>blackout </i>na janela e a usar meus tampões de ouvido para dormir, o que não é nada confortável, mas consegue diminuir os ruídos em meus sonhos. No meio da tarde, acordo e vou ler o jornal já defasado enquanto tomo café. Todos os dias eu penso, vou acordar cedo, amanhã eu quero tomar café, comer um sanduíche, estou necessitado de sanduíches, estou com desejo. Acabo sempre dormindo muito tarde e não consigo acordar; quando desperto, meu apetite já se foi, ou acaba indo embora com o cheiro de comida que se mistura pelo ar, já que é a hora regular do almoço. É no final do dia que vou sentar ao piano para agora, eu, contribuir para o caos sonoro. Em regra, toco por umas três horas sem parar, o que acredito ser bastante justo, visto que é o único momento do dia em que faço barulho. Há alguns dias, trabalhando numa peça um bocado intensa, meu punho direito reclamou e fui obrigado a parar um pouco antes. Preocupado e incomodado, fui até a janela fumar um cigarro. Era o sexto dia de chuva consecutivo, depois de quase um mês sem uma gota d'água cair do céu. Buzinas, sirenes, vozes, telefones, relógios. Apesar de estar nos fundos, estou de frente para os prédios da rua atrás da minha. Entre eles restam apenas três casas, e só uma delas serve de moradia, visto que uma virou igreja evangélica e a outra um centro de terapias holísticas. Eu vivia me perguntando como o pessoal conseguia se concentrar com a cantoria da casa vizinha, até que mês passado se mudou para o apartamento ao lado do meu uma família evangélica, com a qual inclusive já cruzei na porta da igreja, e então passei a ter minha vida embalada pelas músicas que se repetem ao longo de todo o dia, até que eles saiam para o culto. Depois de duas semanas, eu já tinha me acostumado e até estranhava o dia quando não havia ninguém em casa. Bem em frente à minha, quase todas as janelas estavam acesas; lustres, abajures e telas de TV davam ao prédio uma aparência de árvore de natal, com pisca-piscas coloridos e sincronizados, e me trouxe por alguns segundos o cheiro das rabanadas da minha avó. Exatamente na mesma altura que eu, havia acesa uma lâmpada azul, que servia de adereço para o topo da árvore de natal, bem no meio, no último andar. Era uma varanda enorme e estava escancarada apesar da chuva, provavelmente em razão do calor que fazia em contrapartida. As cortinas estavam completamente abertas e as portas de vidro me davam visão total do cômodo que devia ter o mesmo tamanho do meu apartamento. Estava completamente vazio quase: havia uma cama no canto direito, um armário na esquerda, e na parede oposta à varanda um imenso espelho. Nunca consegui entender de onde ela veio, só sei que de repente surgiu no meio do quarto já em movimento e era linda. Estava vestindo uma combinação de várias roupas, meias, um collant, uma calça por cima, algo em torno dos tornozelos, e os pés descalços. Os cabelos escuros estavam amarrados no alto da cabeça numa espécie de coque que deixava escapar alguns fios na nuca e na frente do rosto. Os braços se moviam suavemente em contraste com os passos firmes e os ângulos obtusos que faziam as pernas. A mesma coreografia foi repetida cinco vezes, quando ela finalmente, exausta, parou. Alguns segundos depois, a porta se abriu e sua mãe lhe chamou com o olhar. Já era hora do jantar provavelmente e ela precisava ir. A luz se apagou, mas eu ainda fiquei ali por uma meia hora. No dia seguinte, acordei aflito, de um sonho do qual não conseguia me lembrar, mas com a pele ainda vibrando de tão real. Demorei alguns minutos para conseguir me mover, me levantei e fui fazer o café. Ainda chovia lá fora, mas menos do que no dia anterior; não ouvia nenhum som de rádio, a vizinha devia ter ido ao mercado ou algo assim. Fui até a porta pegar o jornal, mas não havia nada lá, o porteiro provavelmente esqueceu ou deixou no apartamento errado. O piano ainda estava aberto, me sentei na banqueta e olhei para a janela. Do outro lado, tudo estava fechado, agora vejo que não são cortinas, mas persianas também azuis que destoavam do dia cinza. Como um relâmpago fui atravessado por imagens de início turvas e desconexas que aos poucos foram se organizando não pelos movimentos mas pelos sons. Toquei durante cinco minutos sem parar, estava pronto o primeiro movimento. Ele se repetiu nota por nota durante uma hora, quando por fim consegui lembrar de todos os detalhes da coreografia com que sonhei, a mesma embalada na outra noite pela melodia das gotas caindo nos telhados. Meu corpo todo queimava como no sonho, um calor inexplicável, a temperatura havia caído vertiginosamente durante à noite. Sem mudar nenhuma nota, escrevi tudo para ter certeza de que estava pronto. O dia se arrastava e então me dei conta de que o sonho havia me acordado muito mais cedo do que o normal, mas a essa hora não estava com nenhum apetite. Às cinco da tarde a luz já estava mais baixa do que de costume, a chuva havia diminuído consideravelmente, mas ainda havia muitas nuvens no céu. Às seis já era noite e as luzes começaram aos poucos a serem acendidas. Então, ela chegou. A roupa úmida da garoa, os cabelos agora soltos, passavam um pouco dos ombros. Ela deixou tudo em cima da cama e saiu do meu campo de visão. Quando voltou, havia se trocado e o coque estava lá novamente, dessa vez impecável. Corri para o piano e ao primeiro movimento, comecei a tocar. Seu rosto mudou imediatamente a fisionomia, os olhos se cerraram e a boca se abriu de leve involuntariamente. Os braços ainda eram suaves, as pernas um pouco mais obtusas, o corpo ia ao chão muitas vezes e a cabeça girava e voltava ao mesmo ponto numa velocidade que meus dedos não podiam acompanhar. No meio de tudo a porta se abriu o que nos interrompeu quase simultaneamente. As mãos se moviam muito, a princípio eu não tinha entendido, mas não demorei a perceber que ela não podia ouvir, e por isso ontem se surpreendeu quando a mãe entrou no quarto. Eu tinha pensado que não havia batido na porta, mas a verdade é que de nada adiantaria. Fiquei imóvel, decepcionado. Ela nunca iria me ouvir, nunca entenderia o que estava sentindo. Ela já havia recomeçado, me ignorava completamente, os passos não faziam mais sentido para mim, embora continuassem embalados por uma misteriosa batida que a guiava sem deslizes. Eu olhava para ela completamente perdido e tentava encontrar uma forma de ela me escutar. Foi num rompante que me sentei novamente ao piano e a segui. Quanto mais ela girava, mais alto eu tocava, numa tentativa desesperada de que de alguma forma ela me ouvisse. Aos poucos, não só eu, mas tudo ao redor se deixou invadir pela música, eu sentia todo meu corpo vibrar, depois o piano e o chão. Os quadros caíram das paredes, o vaso caiu da mesa de canto, os lustres tilintavam. O prédio inteiro tremia, e de repente, quando cheguei ao fim, fez-se silêncio total, a não ser pela chuva que havia voltado à toda, virei para o lado e a vi de pé na sacada, olhando na minha direção. Só não sabia se era tempestade ou lágrima o que molhava o seu rosto.</span></div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-81602523322431698422012-10-09T20:29:00.001-03:002012-10-09T21:50:20.607-03:00o que é que a gente não faz por amor?<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Hoje faz 11 dias que eu não abro um livro para estudar. Zero, nada, nem uma linha. Com o tempo eu aprendi que quando não consigo fazer uma coisa não adianta insistir. O melhor é mesmo abstrair e ir fazer qualquer outra coisa. Nada pior que culpa e fracasso juntos; se não insisto, fico só com a culpa. Moro no mesmo lugar há uns 3 anos e só outro dia descobri que o prédio tem um terraço. Tomei um banho e resolvi subir para ver pôr-do-sol de lá. Quando decidi, me pediram <i>manda uma foto pra mim?</i> e eu imediatamente disse que sim. Eu provavelmente publicaria a foto em algum outro lugar para que outras pessoas também pudessem ver. Talvez só mandasse para a única pessoa que sabia que eu estava lá. Não sei. Subi, vi para que lado o sol estava indo embora e me sentei. Fiquei um tempo por lá, fumei uns dois cigarros diferentes e logo que as mãos ficaram disponíveis, peguei o celular para tirar a tal foto. Pensei que seria lindo se eu tirasse várias ao longo do processo. Seria quase um filme, quase estar ali ao mesmo tempo que eu. Qual foi a minha surpresa quando a câmera não funcionou. Deve ter sido do banho de cerveja de ontem, ou dos tombos sucessivos que o aparelho começou a levar depois que passei da fase de cuidado neurótico assim que a gente compra. Tirei a bateria, liguei de novo. Nada. Tentei algumas coisas que fui capaz de pensar na hora. Nada. Reiniciei de novo. Nenhum movimento. Decepção. Eu precisava tirar aquela foto. Cogitei descer e pegar uma câmera em casa, mas logo desisti quando me dei conta de que não ia rolar descer as escadinhas. Tentei fazer a câmera funcionar <strike>algumas</strike> várias vezes, quando fui pegar outro cigarro e percebi que o céu estava muito mais escuro. Eu estava perdendo todo o processo e nem o destinatário da foto nem eu veríamos nada. Dali em diante, deixei o celular de lado - como fiz com os textos que tenho que terminar de ler - e parei. Demorei uns segundos pra me situar vendo tudo de cima (nem isso eu tinha parado para analisar), achei estranho o silêncio, diferente do meu apartamento no quarto andar. As janelas dos prédios vizinhos foram se acendendo aos poucos, e com elas os postes das ruas e os faróis dos carros tão pequenos vistos dali. Via a movimentação nas casas, senhoras vendo a novela, a maioria das pessoas chegando, algumas se arrumando para sair. Me lembrei de quando eu era menina - bota aí uns bons 15 anos - e chegava em casa por volta desse horário depois da aula. Nessa época, a minha mãe ainda era a minha mãe (ou o contrário, não sei). Buscar a gente na escola fazia parte desse papel, o que era sempre um evento: três filhos dentro de um carro, sendo duas mulheres, dava o que falar. A gente chegava e começava a segunda parte da missão, banho, jantar e dever de casa. Quando a gente é criança, acha escola um saco, mas eu sempre ouvi que a gente só dá valor quando perde e isso serve para mim com essa fase. Num encadeamento tão rápido quanto confuso de idéias, eu comecei a me lembrar de vários episódios, recentes, antigos; alguns esquecidos, mas tão vivos quanto os que ainda estão na minha cabeça todos os dias. Me lembrei da última menina que eu beijei e do último menino também. Lembrei do gosto de infância da boca dele por conta uma bala verde que eu não comia há séculos, e da dela de canela - rimou -, mas esse nem um pouco de infância, por conta de <strike>algumas</strike> muitas doses de cachaça. Nessa hora, atrás de mim já era quase tudo noite, embora toda a paisagem na minha frente ainda estivesse iluminada por um sol tímido que já se escondia atrás do morro. A luz alaranjada me lembrou do pôr-do-sol do Oriente, uma bola de fogo que não machuca os olhos quando você encara; não sei se por isso o sol parece muito maior, mas dá para ver o círculo perfeito, vermelho metálico por dentro. Lembrei do nascer que precedeu uma das fases mais incriveis da minha vida, quando eu ainda não sabia o que era amar duas pessoas ao mesmo tempo e estar com elas. Não que isso fosse incrível-incrível, mas um incrível-surreal, mas também não é como se eu me orgulhasse disso. Logo depois, eu, ainda que não me arrependesse de nem um minuto sequer, decidi que nunca mais iria fazer aquilo novamente e até agora não aconteceu. Lembrei do meu avô, do quanto ele gostava de sorvete de flocos com biscoitos <i>waffer </i>recheados de chocolate, e de uma vez que ele me pediu para escrever uns nomes num pedaço de papel, quando ele já estava perdendo a memória. Lembrei da primeira noite em que viajei a trabalho e fiquei sozinha num hotel. Essa foi também a primeira vez que entrei num avião e quase morri do coração naqueles míseros 45 minutos de ponte aérea. Nessa época eu não podia conceber a idéia de ficar dentro daquilo por muito mais do que isso, e obviamente não imaginava tampouco que conseguiria ficar não só uma, mas quinze horas por lá, e isso justifica o título <strike>também</strike>. Lembrei da noite mais feliz também, dessas durante viagens para acompanhar casos de conteúdo ( no singular, porque era o mesmo em todos eles) nada interessante, numa época em que não me sentia tão só. Na verdade, acho que era a mesma coisa, mas olhando para trás, parece que antes era melhor e que o amanhã nunca vai chegar. Por um instante, lembrei da foto e de como era chato não poder guardar aquilo ali. Logo eu que sempre fui a louca das fotos, sempre com uma câmera na mão, tentando guardar aqueles segundos numa <strike>quase</strike> paranóia, naturalmente num medo <strike>inconsciente</strike> daquilo se perder. Ou talvez, pensando um pouco melhor, para ter uma prova de que aquilo realmente aconteceu e tentar extrair dos rostos das pessoas ou dos detalhes algo que me permitisse duvidar e/ou me certificar de um determinada coisa. Não sei. De repente, eu cheguei à <i>brilhante </i>conclusão de que nada disso adianta, que os sorrisos das fotos escondem dúvidas, dores e até traições - muitas vezes futuras. Ao ver o dia acabando lentamente, eu me dei conta de que, daquele exato ponto onde eu estava sentada, ninguém estaria vendo o sol se pôr. De algum outro terraço, praia ou fresta de céu, muitas outras pessoas certamente, mas não aquele ali. E na sede do tal registro, quase nem eu vejo. De um lado já era noite, do outro também, mas eu lá de cima ainda via uma nesga de luz atrás da montanha que lembra um homem deitado de barriga pra cima. E me despedi do sol, desejando que amanhã eu não me esforce tanto para dividir nada com ninguém, e que me preocupe mais com quem vai querer sentar do meu lado lá em cima da próxima vez. Ou não, como diria Caetano.</span></div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-63275104572879451232012-10-03T03:11:00.001-03:002012-10-04T00:32:48.157-03:00tipo um baião.<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">De onde eu vejo agora, a lua andou uns metros para a
esquerda. Quando eu pude vê-la, eu te lembrei de olhar para o céu também. Eu
acho incrível isso de estar ao mesmo tempo sob a mesma luz refletida numa massa
opaca que gira em torno de nós. Eu gosto de pensar que se olharmos ao mesmo
tempo naquela direção vamos dividir um mesmo segundo a uma distância curta se a
gente considerar daqui até a Lua, mas certamente considerável a essa hora, sob as nossas
condições. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A mesma distância daqui ao Cristo talvez, que você propôs fazermos
a pé. À noite. Não vi outra solução a não ser dormirmos lá, nós e a Lua, que se
fosse hoje já não estaria tão cheia como vimos há alguns dias. Hoje não chove,
o que também seria bom; o céu hoje está límpido, o que nos permitiria ver as
estrelas, mas seria sinônimo de ventos cortantes nesse início de Primavera<i>.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É verdade, eu tenho essa tendência de não ver só o lado bom.
Com certeza, se fosse você aqui, e não eu, falaria das estrelas e de como
o quarto minguante é uma fase de transformação, não se importaria com o frio,
nem com a lua menos cheia, faria deles algum verso de encanto e deixaria o
resto para lá. Nesses <i>saraus ao luar,</i>
quando <i>meu coração</i> você,<i> sem pensar, ora brinca de inflar, ora
esmaga.</i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A verdade é que as minhas frases perdem o foco junto com as
horas da noite, ficam todas enroladas. Não é só a intensidade que muda, mas a
facilidade que surge involuntária em me desdizer e acabar dizendo o que queria,
mas não pretendia dizer. Você sabe, eu prefiro aproveitar as manhãs, quando
sempre tenho as melhores ideias e um maior controle de mim.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i>Não sei para que outra
história de amor a essa hora</i>; no fundo, eu pensei em esperar até amanhã,
mas a Lua já andou um pouco mais e acredito que isso signifique uma despedida,
com a chegada manhosa das primeiras luzes do dia. Na verdade são três horas,
estou já nas primeiras horas da manhã, a escura e ainda não dormida, mas não
deixa de ser manhã. Eu inverti meus horários, ainda não consegui regular o sono
perdido. Um quase <i>não sei por que, somente agora você vem, vem para embaralhar os meus
dias</i> e por aí vai. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu roubo a coberta, avisei, e que roubava espaço na cama
também, que no meio da noite eu ia estar na diagonal, como se
estivesse sem mais ninguém no colchão. Você não me avisou, mas roubou minha mão na
entrada e outras coisas acabaram indo com ela. Eu queria dizer isso na hora, mas não
quis que você ficasse sem jeito. Ia acabar me devolvendo a mão ou dando um sorriso meio
de lado envergonhado demais. Eu ia adorar o sorriso de lado, quando uma mecha do
cabelo cai também.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu não roubei a coberta, nem o espaço no colchão. Devo ter
roubado algumas coisas por certo, mas não sei dizer.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/1gC2vXQxTRg?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-90753044029279267122012-09-10T10:51:00.001-03:002012-09-10T10:52:47.979-03:00kathy h.<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5wSbZj95BYHVl1a-5ulbzZjSAWmWmEtRicpAGh623A_zkKh55OMfERS-Mxbq8lACkPfN4K7cNZFd37tp1dwB4oaAmQjJNc8UQT6UYFKKZa0rsyfRWvU60BuhYa6tqYVoyKyeuLZ9be40/s1600/never_let_me_go_m.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5wSbZj95BYHVl1a-5ulbzZjSAWmWmEtRicpAGh623A_zkKh55OMfERS-Mxbq8lACkPfN4K7cNZFd37tp1dwB4oaAmQjJNc8UQT6UYFKKZa0rsyfRWvU60BuhYa6tqYVoyKyeuLZ9be40/s320/never_let_me_go_m.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: white; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="color: #660000;">What I'm not sure about, is if our lives have been so different from the lives of the people we save. We all complete. Maybe none of us really understand what we've lived through, or feel we've had enough time. </span></span></div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-14269942501047238932012-09-05T01:54:00.000-03:002012-09-05T02:03:40.852-03:00casa XI.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A casa onze tinha oito portas. Sete brancas, uma marrom. Sete altas, uma muito baixa, e não era a marrom. Todas em círculo, com um poço no meio. O pátio ao redor era de ladrilhos vermelhos, expostos ao céu aberto. O teto de estrelas parecia mais alto do que o normal, o de nuvens mais baixo do que o esperado. Dei naquele pátio, mas não sabia dizer de qual porta havia saído. Do céu, impossível, do poço, talvez? Por instinto, quem sabe, fui ao ímpar mais explícito e abri a porta marrom. Cheguei imediatamente ao pátio externo do mesmo cenário: eu estava agora do lado de fora do círculo numa espécie de varanda do espaço anterior e foi quando percebi que se tratava de uma torre altíssima, num vasto campo a perder de vista, cercada por um fosso de um raio - considerada a distância que eu estava do chão - de pelo menos cinco quilômetros. Não havia qualquer conexão entre a construção e a margem. Aparentemente, acreditava eu, cheguei e precisava sair. Dei voltas e voltas no círculo de fora, supus que qualquer porta me levaria para dentro e, por isso, abri a primeira porta branca pela qual passei. Bati a porta atrás de mim e me vi diante da porta marrom. Do lado de fora. Repeti o gesto com mais cinco portas, inclusive a marrom, e todas me levaram ao mesmo lugar. A porta marrom. Do lado de fora. Faltava a porta muito baixa. A bem da verdade, era uma portinhola muito rente ao rodapé e, agora me dei conta, é muito mais baixa do lado de fora. Ao contrário das demais, ela abria para dentro, o que constatei já deitado no chão do mesmo tom amarelado das paredes e excessivamente limpo, a despeito da sala de dentro. Tentei tocar o dentro da porta, tive medo de ficar preso no meio do caminho. Ou ainda pior, lá dentro. Me pus de pé novamente, tentei todas as portas pelo menos três vezes e em vão voltei ao ponto de partida. Foi quando, então, decidido, eu pulei.</span></div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-17100104724782149832012-08-16T10:24:00.001-03:002012-08-16T10:24:14.240-03:00bobagens.<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="280" mozallowfullscreen="mozallowfullscreen" src="http://player.vimeo.com/video/45718018" webkitallowfullscreen="webkitallowfullscreen" width="500"></iframe> <a href="http://vimeo.com/45718018">Amarello Amor</a> from <a href="http://vimeo.com/user7024951">AMARELLO</a> on <a href="http://vimeo.com/">Vimeo</a>.</div>
Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-87955020637337655002012-06-07T10:44:00.000-03:002012-06-07T10:49:01.892-03:00o mundo é pequeno pra caramba.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #454545;">O nosso era muito mais original. Porque não era meu, nem dele, porque se assim fosse não se saberia exatamente o que era devaneio ou o que era razão, e tudo seria um misto de conclusões e luzes, às vezes indiretas outras em neon. Quando tudo se apagou só sobraram alguns trôpegos e vários porquês que faltaram esclarecer. Eu que já não lembrava mais como tudo começou, preferi sair antes de a sessão terminar. Assim, se o final fosse infeliz, eu levaria adiante qualquer subterfúgio, acenderia todas as luzes de uma vez, as indiretas, minhas, em versos intrusos; cegando relances de memórias futuras, eu me fui sem olhar para trás, tentando entender o calor que se deu em alforria. Quarta-feira. Primeiro último capítulo da estreia. Não, isso foi o que eu inventei. </span><span style="background-color: white; color: #454545;">A saudade era uma coisa que eu também tinha inventado: uma parte de mim era solidão e a outra já morreu.</span></span>
</div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-47860813700781657632012-04-07T13:08:00.000-03:002012-04-07T13:12:32.873-03:00juran que esa paloma no es otra cosa más que su alma.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ela teima em dizer que não, mas eram de amêndoas os biscoitos que ela trouxe para o quarto na primeira manhã. O chá, concordamos, era de erva-doce, e bebi feliz, embora não suporte nem o cheiro de erva-doce. Chegou esvoaçante, as maçãs ainda coradas do calor do forno, sorrindo com as duas arcadas à mostra, num harmonioso quase excesso de dentes, que só combina com seu rosto longo. A blusa era minha, </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">não achei a minha nessa bagunça, espero que não se importe</i><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">, mas a calça cor de chiclete era absolutamente dela. Enquanto eu provava os biscoitos ela me olhava com uma expressão que até hoje não compreendo. Eu tentava fazer parecer que aquilo tudo não era tão importante assim, mas ela pouco se importou. Sorria e sorria e virava a cabeça de lado, de jeito que os cabelos muito compridos esbarrassem nos joelhos cruzados à minha frente. </span><i style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">São todos pra mim?</i><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">, quis saber em mais uma tentativa de me sentir no controle. Ela fez que sim com a mesma cabeça de lado, o mesmo sorriso largo e me venceu de novo, sem nem saber que estava lutando, o que para mim era ainda mais desconcertante. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Levantou-se num rompante e começou a arrumar o quarto e a falar sobre o que iríamos fazer durante o dia. Iria me levar para conhecer a cidade, tomaríamos o melhor <i>capuccino</i> que ela já havia provado na vida, iríamos à feira comprar uma lista de coisas (que não entendia como ela tinha memorizado de tantas que eram) para preparar o jantar em casa e por fim encontraríamos alguns amigos dela que queria que eu conhecesse, os mesmos que se juntariam a nós à noite para provar o prato cujo nome até hoje não consegui memorizar. Falava e gesticulava, às vezes se sentava na beira da cama e tocava meus pés por alguns segundos, e logo se levantava novamente, como se estivesse um pouco tímida apesar de eufórica de novidades.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Foi até a sacada e acenou para uma senhora que morava na janela do mesmo andar do outro lado da rua. Disse palavras que não consegui entender, sorriu e enrolou os cabelos num nó que se desfez automaticamente, e os fios derreteram dançantes até a cintura. Pegou a bandeja em cima da cama, deu alguns passos em círculos, todo o tempo falando sem parar e eu, em silêncio, mais por não querer interrompê-la do que me parecia um êxtase ansioso, do que por não ter o que dizer. Falava de umas gravuras, algo em que havia trabalhado nas últimas semanas e queria me mostrar, mas não tinha mãos para pegar, <i>Vou deixar isso na cozinha, me espera que já volto, </i>e eu me perguntei para onde e como ela achava que eu iria fugir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Voltou com uma garrafa de água gelada, <i>Nessa época faz tanto calor que não sei</i>, e também fiquei eu sem saber o que queria dizer. Acredito que tenha se esquecido dos tais desenhos, porque se deitou na cama de lado me dizendo <i>Você prometeu que ia pentear meu cabelo </i>e foi a única coisa que precisou me pedir desde então, quando me enfeitiçou o cheiro de flores que se espalhou pelo quarto naquela manhã.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-29881523875230357082012-04-06T13:14:00.000-03:002012-04-06T13:14:12.379-03:00nobody wants you when you are down and out [2].<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O homem do relógio resolveu ir embora. Assim, sem mais nem menos, porque resolveu. Decidiu que os dias seriam contados ao contrário, a partir da sua chegada no novo destino que ainda desconhecia. Limpou a casa, cobriu os móveis, fechou todas as janelas, libertou os pássaros da gaiola, e, o cão, deixou na casa da vizinha que já cuidava dele durante suas viagens de rotina. Saiu às 5h da manhã, horário em que todos dormiam, mas não se preocupou com a hora exata. Deixou para trás os horários, as rotinas, queimou a casa e ligou para os bombeiros, não queria causar transtorno aos que viviam ao redor. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O homem do relógio seguiu a pé, para não deixar rastros. Foi pelo caminho mais longo para ter tempo suficiente para se esquecer de seus planos e se perder no trajeto. Andou sem contar as noites por três meses, até que se esqueceu também de seu nome. Não sabia mais qual era seu prato preferido, o dia do aniversário de sua mãe, nem o nome do cachorro que havia deixado com a vizinha.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O homem do relógio esqueceu os números e viveu todos os dias como se fossem um só. Ia do 1, ao 2, do 2 ao 3. Chegava ao 12 e recomeçava. Do 1, ao 2, do 2 ao 3. Em círculos, ele andava. </span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-41159892420230843832012-02-02T23:04:00.000-02:002012-02-02T23:06:35.804-02:00chega de saudade.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Era um céu azul de transparência nítida dos dias de verão. Não tinha mais o que pedir, ele não sabia mais o que eu queria e eu, eu nunca soube. Por que você não me disse que viria para ficar? Por que você não me abraçou mais forte antes de sair de manhã? A gente nunca sabe quando vai ser o último dia, a gente na verdade nunca sabe em que posição algo se cala para sempre. Eu não sabia e fui. E pensei, como posso entender o que me espera se não sei para onde vou. Eu só tinha certeza de que dessa vez eu não queria mais correr em vão, eu preferia sangrar meus pés e apreciar a paisagem. Enquanto os rios continuavam a correr e a brisa ainda ventava lenta a cortina da sala eu saí pela porta. Da frente, sem dúvida, exatamente por onde entrei. Quando fechei o peso da angústia atrás de mim, me libertei da responsabilidade de ser o que nunca quis e me perguntei por quanto tempo ainda teria me permitido viver esse martírio. Eu pensei, se eu tivesse tido certeza alguma vez nessa vida, a única que conheço bela, os dias teriam sido mais brilhantes? Se eu não pudesse medir o tamanho da ternura perdida em mim, eu seria capaz de contar o quanto ainda me falta viver? Eu gosto de agradecer ao acaso quando ele me engana. De vez em quando ele me carrega a passos lentos para rebelde me arrastar trajetos longos de momentos de desvario. Eu rio e choro, e quase nunca me conformo com as placas que me guiam, na sorte escolho uma e vou. Na falta de opção, me decido pelo que melhor me soa. Hoje, agora, senão me perco. Eu vou e digo adeus, com uma felicidade há muito esquecida.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-4383121314313960882012-01-29T18:20:00.000-02:002012-01-29T18:20:10.887-02:00e o meu medo maior é o espelho se quebrar.<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tanta coisa que eu simplesmente
não pensei em te dizer. Quero dizer, na verdade elas sempre estiveram aqui e eu
não tinha para quem dizer, e, quando encontrei, elas fugiram num raio. Eu não
saberia por onde começar, mas pelo menos teria encontrado algum modo de fazer
você um pouco mais feliz. Eu não tinha a menor idéia do quanto isso tudo
cresceria, eu não sabia dizer o que viria depois do não, mas sabia que não
conseguiria voltar atrás. E se eu pudesse te dizer o que cantei para tantos, eu
seria mais forte que você, simplesmente porque desse modo eu te aproximaria dos
outros. Eu te coloquei à parte e perto, num quase não existir no meu peito.
Você sempre soube que isso não seria nada além da minha melhor teoria de amor,
que eu usaria o resto da vida como justificativa para sofrer por algo que
jamais aconteceu e que a partir daquele momento estaria proibido para sempre.
Eu não sei amar porque preciso mais do que quero e quase sempre me esvaio por
nada. Nem todo dia eu te amo e eu nunca sei quem sou. Eu faço você acreditar
que te amo perdidamente, pois esse foi o jeito que encontrei de me punir por
não conseguir sentir nada que não seja uma necessidade desesperada de fuga.
Mas, no fundo, acho que você gosta mais de mim do que eu de você. Eu
preferia dizer isso pessoalmente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">*</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu preferia dizer isso
pessoalmente. Mas, no fundo, acho que você gosta mais de mim do que eu de
você. Eu faço você acreditar que te amo perdidamente, pois esse foi o jeito que
encontrei de me punir por não conseguir sentir nada que não seja uma
necessidade desesperada de fuga. Nem todo dia eu te amo e eu nunca sei quem
sou. Eu não sei amar porque preciso mais do que quero e quase sempre me esvaio
por nada. Você sempre soube que isso não seria nada além da minha melhor teoria
de amor, que eu usaria o resto da vida como justificativa para sofrer por algo
que jamais aconteceu e que a partir daquele momento estaria proibido para
sempre. Eu te coloquei à parte e perto, num quase não existir no meu peito. E
se eu pudesse te dizer o que cantei para tantos, eu seria mais forte que você,
simplesmente porque desse modo eu te aproximaria dos outros. Eu não tinha a
menor idéia do quanto isso tudo cresceria, eu não sabia dizer o que viria
depois do não, mas sabia que não conseguiria voltar atrás. Eu não saberia por
onde começar, mas pelo menos teria encontrado algum modo de fazer você um pouco
mais feliz. Quero dizer, na verdade, elas sempre estiveram aqui e eu não tinha
para quem dizer, e, quando encontrei, elas fugiram num raio. Tanta coisa que eu
simplesmente não pensei em te dizer.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-5935032653446529642011-11-27T01:58:00.001-02:002011-11-27T02:00:11.323-02:00one day.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZZ-UjwUOIZCqGOGStHxy0hrGdIuB-iR-e5TdDBOAA36z0EmzAM3ubpa3KPG_cJY1xC5bMgwH40ceDXIVJY9PCguTBMeqDEgBk1BAgBjqpiJn0aAKxcQlcz4OJzxdqC2iG05oyymU64fA/s1600/One-Day-movie-4e421a637731a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZZ-UjwUOIZCqGOGStHxy0hrGdIuB-iR-e5TdDBOAA36z0EmzAM3ubpa3KPG_cJY1xC5bMgwH40ceDXIVJY9PCguTBMeqDEgBk1BAgBjqpiJn0aAKxcQlcz4OJzxdqC2iG05oyymU64fA/s320/One-Day-movie-4e421a637731a.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><b>enough.</b></span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-88637419237439227922011-11-26T16:42:00.001-02:002011-11-26T16:58:38.346-02:00metade da terceira conversa.<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Jesus Cristo. - Ela passa a marcha com uma violência impressionante e fica sem falar comigo durante um tempo. Sei que quase chegamos a algum lugar; sei que se tivesse coragem eu diria a ela que ela estava certa, que ela sempre tinha razão e que eu precisava dela e a amava, e teria pedido que ela se casasse comigo ou algo assim. Só que, sabe como é, quero manter minhas opções em aberto, e de qualquer forma não há tempo, porque ela ainda não terminou comigo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Sabe o que realmente me incomoda?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Sei. Todos esses troços que você acabou de me contar. A respeito de como eu mantenho minhas opiniões em aberto e tudo o mais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Fora isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Puta que pariu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Eu consigo lhe dizer exatamente - exatamente - o que está errado com você e o que você deveria estar fazendo a respeito, e você não conseguiria nem chegar perto de fazer o mesmo por mim. Conseguiria?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Sim.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Comece, então.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Você está farta do seu emprego.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- E isso é o que está errado comigo, não é?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Mais ou menos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Está vendo? Você não tem a menor idéia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Dê-me uma chance. Acabamos de voltar a morar juntos. Provavelmente descobrirei alguma outra coisa nas próximas duas semanas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Mas nem mesmo farta do meu emprego eu estou. Gosto bastante dele, na verdade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Você só está me dizendo isso pra me fazer parecer idiota. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Não, não estou. Gosto do meu trabalho. É estimulante, eu gosto das pessoas com quem trabalho, já me acostumei ao dinheiro... mas não gosto de gostar disso. Fico confusa. Eu não sou quem eu queria ser quando cresci.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Quem é que você queria ser?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Não uma mulher de blazer, com uma secretária e de olho numa sociedade na firma. Eu queria ser defensora pública com um namorado DJ, e está tudo dando errado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Então vá arranjar um DJ pra você. O que é que você quer que eu faça?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Não quero que você faça nada. Só quero que você entenda que eu não me defino inteiramente pela minha relação com você. Quero que você entenda que só porque estamos esclarecendo as coisas entre nós, não quer que eu esteja ficando esclarecida. Tenho outras dúvidas e preocupações e ambições. Não sei que tipo de vida eu quero e não sei em que tipo de casa eu quero morar e a quantidade de dinheiro que estarei ganhando daqui a dois ou três anos me assusta e...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Você não podia ter desembuchado isso logo de cara? Como é que eu ia adivinhar? Qual o grande segredo?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">- Não há grande segredo. Estou simplesmente salientando que o que acontece conosco não constitui a história toda. Que eu continuo a existir mesmo quando não estamos juntos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu teria descoberto isso sozinho, no final. Teria visto que só porque eu fico um pouco fora de foco quando estou sem parceira, não significa que isso aconteça com todo mundo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i>Alta fidelidade</i>, Nick Hornby.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-71819014946423312402011-10-19T01:15:00.002-02:002011-10-19T01:16:01.050-02:00viver é super difícil o mais fundo está sempre na superfície,<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu não seria nada se não fosse a
minha vida de deixar viver. Eu não seria mais nada além, se não houvesse dito e
revisto os passos que dei, as manias que perdi e as palavras que deixei no ar.
Sem você eu achei que não viveria, mas descobri que o seu silêncio me foi mais
digno que o seu perdão. Eu lhe falei que o meu hoje era um vazio pleno de
desconfianças e desprezo, que eu não podia mais sentir nada que não fosse o que
outro dia eu refiz meu, mas eu preferi desdizer o meu ontem a rever o amanhã.
Eu soube desde sempre que isso não daria certo. E não deu. Não porque o meu
começo não tenha sido em desconforto, mas tanto mais porque o dia certo de existir
sempre foi o que por mim se deu a controlar. Eu não tive controle de tudo, eu
não aprendo que não é possível ter controle de tudo e que é exatamente aí que
tudo se encaixa. Eu não sou nada além de uma mentira que se detém em erros para
justificar meus impulsos e minhas totais verdades. Eu não tive medo de entrar
no palco sem tirar o chapéu, não foi isso exatamente que me feriu. Foi o seu
não em forma de sim para depois, que me tirou as rédeas que eu gosto de ter em
mãos. Foi o meu desespero em forma de preocupação que me tornou esse desterro,
esse impacto sem provas, essa dor em desatino que me corrói. Eu fui corrompido
por mim e, disso, ninguém me avisou. Se eu não pudesse mais saber o quanto seria
fácil ter uma união em relento, uma falsa noção de prazer, eu teria sido menos
prudente. Teria me deleitado
em redenção, em nostalgia, me permitindo viver com você o que eu vivi em outros
braços, e estaria por fim, revivendo. Essa liberdade que inspiro
é muito menos que o pânico de não ser desejado, uma lenta e suave ilusão de que
o mundo conspira para que o meu sétimo dia seja tudo menos descanso. Eu seria mais se não me sentisse tão
pouco amado, e tudo o que preciso hoje é de alguém que me enxergue, o que
absolutamente se distancia de apenas me ver, porque é isso que me faz caminhar
adiante. Você não é nada, só alguém com quem
dialogo para não me sentir tão só, que criei dentro de mim como o
perfeito interlocutor em meus dias infinitos, meus profundos vazios. Eu também
não sou ninguém e sem demora me apresento para dizer que sou infeliz como você, que
não sei o meu lugar num mundo tão imenso e que não sei por onde começar a
procurar. Muito prazer.</span> </div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-84833682278330017142011-08-31T01:40:00.005-03:002011-08-31T01:54:56.235-03:00nessa luz tão clichê eu te encontro perdida e quero fugir com você.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Manoel não dormiu. Se pensasse bem, era o que já queria desde o início. Ele não sabia ao certo o que lhe dizia para continuar. Ele não sabia nada. Enquanto ela dormia, pensava se Marina já estava de pé. Linda, Marina. Linda de doer. Linda de viver. Linda de sorrir e fazer sorrir. Linda, deveria se chamar Marina, para Manoel. E, linda, era como Manoel se lembrava de Marina. Não linda exatamente como vêem os fúteis. Linda como ela deveria ser e havia se esquecido. Ou como ainda não havia descoberto. É linda, ele pensava, e se entorpecia na luz do dia que começava estranho, sem terminar, mas já findo em si. Não é possível que eu não tenha reparado, ele pensava e ouvia o sol crepitar lá fora.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Se Marina soubesse o quanto se ama lá fora, teria saído da cama antes. Com certeza, ela não lembrava mais de como era a vida sem. Marina não sabia mais o quanto a fazia feliz, vivia da inútil presença da lembrança que a assolava sem perdão, uma saudade viva na carne, na vida que se incomodava em viver. Marina, a menina de olhos misturados em prece, a um deus recém descoberto que ainda não lhe havia ensinado como extirpar a dor preciosa que carregava no peito para não se esquecer do que era enfim morrer. E renascer.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Manoel pensava impune em como faria. Um sermão na montanha não lhe seria suficiente. Não para ele; para Marina, talvez. Para uma serenata não seria capaz de escolher as musicas certas, talvez sua voz o calasse em dúvidas de prosseguir. Quem sabe um dia Marina escolherá as musicas que quer me ouvir, quem sabe ela seja um dia a querida de meus afagos, quem sabe o mundo não será tão injusto e me trará a paz novamente, ele cogitava, ciente de que se tratava de uma batalha perdida. Uma batalha, que hoje me traz à porta o fracasso, em batidas firmes e compassadas, mas o que não dá certo hoje poderá ser o oxigênio de amanhã. Mas se amanhã já é hoje, como farei?</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quando Marina pensou no que queria dizer, o que a invadiu primeiro foi o que não sabia explicar, como faz tempo não acredita em si mesma, o que há tanto a impede de trazer para dentro o que lhe mostram em verdades voláteis. Não sabia mais definir se era bom ou ruim ser invadida de tanto azul, mas preferiu pensar que era bom. Afinal, ruim, há muito já era. Ser bom para ela não significava exatamente ser ruim para outros, mas naquele momento, pensou novamente, e preferiu decidir assim. Não sabia se isso a aproximava ou não do que toda a gente fazia questão de fazê-la acreditar, porque definitivamente, aproximar faria cair por terra tudo o que se impôs para ser capaz de seguir.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Manoel ainda não havia se decidido se preferia ver de longe ou se preferia se livrar dessa sensação confusa, o que também o afastaria de tudo que havia decidido para si. Ele não ainda havia definido por onde ia seguir, mas desde o início de tudo ele sabia onde tudo iria chegar. E sofrendo, então, seguiu tentando romper os duros obstáculos. Como Marina. Manoel, insatisfeito com tudo o que já havia esquecido, resolveu se lembrar de como ela repetia displicente as palavras dele, talvez num ritmo diferente, numa cadência não pensada antes, que talvez ele tivesse querido pensar. Mas Marina, maldita, Marina foi capaz. E tirou todo o respaldo, a segurança do piso e Manoel pensou, estou caindo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Marina e seu amor antigo, guardado de pó e mágoas, precisava se apaixonar novamente. Mas não sabia como. Não sabia como curar as feridas que alimentava para trazer algum tipo de motivação para o corpo inerte. Era um dia, uma noite, luzes sem cessar, uma cura, cadê? Marina queria dizer que adorava ela. E Manoel adorava que ela adorasse qualquer coisa, só pelo simples fato de que ela sorria quando saía sem se importar com o às vezes incomum silêncio entre eles. Marina queria poder esquecer todos os castelos que construíra para se esconder nos últimos dias. Meses de trabalho em vão, ela se despedia das tentativas de se maltratar pelas noites inundadas em pranto, de rosto iluminado de cansaço e dor.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E Manoel, num misto de riso e dor, não a mesma dor de Marina, mas uma dor de vazio desconhecido, tinha a certeza de que aquela felicidade era uma coisa mais do que antes experimentada pelo simples fato de nunca ter se pensado de pé tão cedo, ainda com um mesmo pensamento a lhe ocorrer. Não era uma bobagem de vidas deixadas para trás, em ruas que nunca percorreu, mas daquelas que sabia que não precisaria apontar os postes de luz mais bonitos, a luz que ele tinha para enxergar adiante estava ao lado. Uma vez, então, em sua vida feliz, ele viu que feliz estava aqui, sem saber por onde começar a se desfazer do que já tinha como seu eu.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Marina não sabe como começar. Não fazia mais sentido não dizer. E algumas coisas que vê e sente e vive, ela no seu viver contido de menina, não quer se calar. E grita, grita a plenos pulmões e chora e ri, não como Manoel, deitado no sofá da sala já embriagada de raios de sol, ela ri de uma felicidade já vivida, que não volta mais, da singela lembrança que preferiu guardar, dos nomes que guardou e das manhãs de chuva, diferentes dessa que começa. Parece lindo o cenário, parece tinta a óleo, parece a paisagem dos sonhos. E suas lágrimas, cansadas de serem convidadas a participar de seu desespero, mostraram que o quadro que carregava nas costas, tentando decorar os dias de hoje com o que havia ficado no passado, é feito de aquarela e se esvai.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Manoel abraça Marina, ele crê. Ela não sabe de onde vem o calor que a conforta, mas decide que não precisa mais correr. Ele adormece enfim, invadido pelas cores que ela chora. Ela sofre, mas simplesmente ri. E quer conversar com ele até amanhã de manhã, sem saber de quem é a mão que a afaga, nem que o dia para ele simplesmente acabou de apagar, pois todo o resto basta.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-54670017365389516442011-08-17T15:54:00.002-03:002011-08-17T15:56:42.794-03:00você só me fez mudar, mas depois mudou de mim.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Hoje Clarice morreu. Morreu de morte matada, morte sofrida, morte abandonada. Foi a morte do amor de nunca vida, a morte do sereno escutar da palavra ávida de sentido. Clarice morreu, Alice não se culpa mais. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Hoje foi o dia em que Alice, matou Clarice. Puxou seu pé por baixo da mesa e derrubou-a de cabeça no chão. Ela estava desacordada e não entendeu quando Alice bateu a porta atrás de si e ateou fogo na casa. Clarice sufocou com a fumaça e não conseguiu pedir socorro, rastejou por algum tempo, entre fragmentos de desdém espalhados pelo chão e por fim achou a porta, aquela que Alice fechou. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas a chave Alice carregou consigo. E Clarice, sem entender o porquê, entendeu simplesmente que não seria capaz de sair. Era o fim. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Adeus, vida, adeus. Adeus, bom dia, adeus. Adeus, promessas, palavras, perdão, palavras, pedidos, palavras, perdidas palavras. Adeus, dias, noites, dias-noites. Adeus, tempo, adeus. Adeus, boa noite, eu me despeço de todos daqui.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Adeus, mentira, adeus. Adeus, sufoco, vergonha, medo, ameaça. Adeus. Adeus. Adeus.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Meu coração bate vazio. Seu grito oco no meu peito espalha a dor que lateja o mar de veias que me irriga de falta. Estou sozinha, seu bem querer não me rege mais e, por isso, não me reconheço. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ontem ouvi meu nome na TV e fingi que era você a me chamar. Não era o meu nome exatamente, mas o nome diferente que escolhemos para nos chamarmos e que em qualquer contexto me lembrará você. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu sinto tanto pelos dias que desperdicei acreditando que você estaria comigo para sempre. Sinto pelas noites em que senti calor e não dormi abraçada com você o tempo todo. Eu sinto tanto, meu amor. Eu sinto tudo o que eu sentia e mais o espinho frio que me atravessa quando seu sorriso me vem em áudio e cor. E enquanto você sorri eu ouço um eu te amo redondo de luar, não o seu adeus silencioso de dor. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E de cólera não se cria adeus, se compila motivos para não enxergar o que meu mundo, você, meu vulcão, despeja cego. Eu não sabia que seus pés pesavam tanto. Eu não sabia que seu coração batia tão devagar. Eu confundi o meu mundo com o nosso, eu fiz dele um céu limpo de rajadas de vento. Eu quis um querubim para me contar a história do dia igual a esse, no caminho igual a esse, mas que hoje me leva para muito longe daquele que eu pensei fosse ser o último gosto que eu iria conhecer. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A lua me olha queimar aqui, a maldita. E eu não sinto mais o calor me arder. </span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-81018232821506933582011-07-26T11:46:00.000-03:002011-07-26T11:46:07.438-03:00my knight in shining armor.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #8c0808; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 20px;">Quando eu vim para esse mundo, ganhei uma espada para lutar e um escudo para me defender. Quando eu era menino, ainda muito pequeno para entender a utilidade de coisas tão grandes, me escondia sob o escudo e fazia dele um castelo em formato de cogumelo gigante. Ali eu guardava uma vitrola antiga e umas histórias de contar que trazia mais na memória do que nas páginas que folheava sem compreender. Um dia, eu percebi que meu castelo não me protegia mais. Meus pés ficavam para o lado de fora, se queimavam com o sol do dia e se molhavam de chuva no fim da tarde. Eu era achado com facilidade por aqueles que preferia esquecer. Não conseguia mais deixar a lama do lado de fora e minha fortaleza precisou ser derrubada. Eu ainda era muito pequeno para trazer a espada em riste e descobri que a manter alinhada ao meu corpo era bastante eficaz para amedrontar alguns. Passei muito tempo parado, mais servindo de apoio do que sendo apoiado, e, por fim, percebi que precisava andar. Arrastei por muito tempo aquele peso sem saber mais uma vez qual a serventia daquilo tudo. Foi quando um dia, exausto, cheguei num beco sem saída. Embora ainda não tivesse força nem tamanho suficientes para empunhar a espada, os calos que minhas mãos já exaltavam me deram apoio para desbastar os espinhos e o caminho se abriu. Desde então, muitos vieram comigo, todos desistiram. Muitos me deram o braço e disseram, </span><span class="Apple-style-span" style="color: #8c0808; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 20px;"><i>vamos</i></span><span class="Apple-style-span" style="color: #8c0808; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 20px;">, mas nunca dividiram o peso das armas comigo. Outros me viram cair e disseram, </span><span class="Apple-style-span" style="color: #8c0808; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 20px;"><i>levante</i></span><span class="Apple-style-span" style="color: #8c0808; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; line-height: 20px;">, mas não se dispuseram a cuidar das feridas do meu corpo. </span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E eu ainda me culpo de pensar que lutar é para os fracos: os fortes seguem na sobra.</span>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-74346625790261043732011-07-24T14:13:00.002-03:002011-07-24T14:26:01.144-03:00they got a skin and they put me in.<div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><a href="http://www.blogger.com/%3Ciframe%20width=%22560%22%20height=%22349%22%20src=%22http://www.youtube.com/embed/KykKbK360iw%22%20frameborder=%220%22%20allowfullscreen%3E%3C/iframe%3E"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/KykKbK360iw" width="560"></iframe></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Não é que eu não acredite, mas quase não sei dizer o porquê de tanta dúvida. Talvez seja o sol que não brilha mais da mesma forma, ou o cheiro da manhã que não se apresenta mais tão ocre. Li todos os livros que tinha na estante disponíveis para o amor e ainda me encontro perdido numa pilha que cresce e cresce sem tamanho para um infinito de poesia e dor que me sufoca. É um medo de não conseguir decifrar tudo o que se esconde entre as palavras o que me devora. Eu não tinha mais idade para fugir de mim mesmo quando percebi que o outro era eu em encontro ao navegar da vida. Se hoje eu não sei o que sou, não foi por mim, mas por aquilo que deixei de ser há muito tempo, já lá atrás dos tempos idos que não se foram completamente, mas que, sim, persistem e insistem em me esconder do que realmente desejo. E se não fui o que efetivamente desejei, não foi por mim, mas por aqueles a quem jurei devoção eterna. Enquanto esses se jogavam na vida que eu propiciei, eu, em mim há tanto perdido, me esquivei de minha real devoção e me escondi entre o pó e a fadiga de ser um quase nada de mim que se jogou às trevas da solidão. Tanto tempo longe desse eu, que hoje, ao me enfrentar sofro um distúrbio resultado de um conflito com o sempre e com o agora, enquanto o agora já há muito deixou de ser o sempre. Desse estado quase inerte eu me jogo ao meu tudo que se revolta como um vulcão de inimizade com o meu mais profundo conflito, uma jornada de terríveis percursos àquele que eu não reconheço mais ao olhar no espelho do quarto. Sou eu, eu penso, sou eu que me encontro ali, mas que rosto é aquele que eu não sei de quem é? De quem é a vida que aquele rosto transparece, e de quem são as rugas que eu estampo no reflexo longínquo que não entendo como meu? Se eu não sou o que vejo, o que serei então um dia quando eu puder me ver inteiro no espelho da manhã que não sinto mais amarga? Seria um vestígio do ontem e o prenúncio do amanhã, mas sem cortar o mal que converge num até amanhã? Eu me pergunto se o que eu deveria te dar é o meu eu de antes ou esse meu eu de agora, esse que você ressuscitou. Essa beleza que te encanta, qual é?, a dos dias de ontem ou a dos que nasceram após a sua chegada? Enquanto eu não puder me corrigir do desespero de ser um suporte invisível àqueles que trouxe ao meu cuidado, eu provavelmente não serei capaz de te enxergar como um todo que me pertence, pois é difícil aceitar que alguém por fim tenha me trazido à tona desse naufrágio que me isolou durante todo o tempo que conheço de vida. É difícil ser o que já tinha me esquecido sem trair aquele que construí de mim, sem me punir por abandonar não os outros, mas talvez esse meu eu recortado de necessidades alheias e aceitar que hoje é você que me constrói os dias mais lindos que já vi. Hoje eu sou visto de dentro, por olhos crus que não me temperam com seus próprios desejos. Não é que não acredite, </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">mas quase não sei dizer o porquê de tanta dúvida.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-4337116255777724272011-06-21T23:53:00.001-03:002011-06-21T23:58:07.027-03:00é água no mar, é maré cheia ô mareia ô, mareia.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Seria apenas lembrança se a vida não tivesse mudado meu destino. Ouvi dizer que a vida valeria a pena se eu não temesse a solidão. Eu a enfrentei. Eu a derrotei, pisei nela com pegadas de gigante. Eu encontrei minha fé novamente, minha fé em dias de modesto ronronar, de festa dançante em noites de quinta-feira, a quinta ensolarada que me inspirou sonhar com você pela segunda vez. Eu sou o mundo que lhe rodeia, a nota impossível de alcançar e lhe digo que as noites não precisam ser mais tão frias, mesmo hoje no primeiro dia de nosso primeiro inverno assim. Porque os outros começaram sem que se fizessem notar. A minha satisfação em lhe abraçar novamente sob a maresia em lua minguante não tem salvação. Não tem tamanho, não tem símbolo, penar, e bola de cristal nenhuma mostraria a moléstia em clarão sem lhe trazer pavor. Eu lhe disse que a minha dúvida não era quanto ao meu pedido, eu não peço, eu mordo, me faço num pedaço de sua carne macia em meu sossego, em meu silêncio, em minhas medidas sem requinte e encharcadas de paixão. Enquanto o vento sopra para longe as suas angústias, eu acompanho surda a paisagem, inspiro cega o cheiro do mar que nos abocanha mais uma vez, nos dando tacitamente a permissão indômita para prosseguir, para finalmente aceitar que se ele não pudesse prever o que se desenrolou sob suas ondas, não nos teria trazido até aqui novamente para sua benção. Enquanto as ondas quebram no meu sonho, o seu se esvai por caminhos distantes, alheio a qualquer passo que escolhemos dar. E eu sei que é o nosso primeiro sim a um mundo inteiro de novenas, de caravelas mercantes a nos embalarem em sonos compartilhados de anseios e de conquistas de ternura e afeto. Eu não seria eu se não lhe desse meu amor como ele se apresentou a mim, eu não seria justa comigo, antes de com você, pois se a vontade de lhe ter é maior que a vontade de me achar, eu espero para me encontrar quando chegar a hora de dizer que quem sabe o passado não tenha sido uma garantia de que o hoje não seria interrompido por amores desfalecidos e inertes, isentos e incólumes, humanamente destituídos dessa luz que nos envolve sem doer. Eu não sabia que para amar era preciso ser reduzida ao meu caráter, ao ruído sincero que o coração faz quando se ajusta ao ritmo de outra pulsação. Eu não sabia que para sonhar com a verdade era preciso lidar com a vergonha de admitir que ele não me ensina nada, mas que eu me livro, isso sim, a partir dele, daquilo que um dia preferi desconhecer.</span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-51906545491836827852011-06-16T12:18:00.001-03:002011-06-16T12:28:51.774-03:00pela frente, pelo verso: vamos comê-lo cru.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E se resvalo meus seios em sua pele é você quem pede: me condenam por sentir na carne o que minha alma já traz em desalinho. E se sua voz me guia por quase cantos, quase pontos, quase notas, eu encontro a melodia do teu corpo em compasso com o meu, uma velha mania que eu adquiri com o tempo, tentar entender o que o seu peso me diz, o seu ar expirado, o pulso que me derrama restos dos estilhaços de prazer. E escorrego os dedos no meio fundo de suas costas, dos quadris aos ombros, e os abro para não perder nenhum centímetro do seu deleite. Sinto que meu sangue vai jorrar pelos poros, desidrato, arfo, e o peito fechado não me deixa respirar em paz. Me falta ar. Te devoro em mil palavras, em mil perguntas, em novecentas mil respostas que seu corpo me dá. Seu perfume me contamina, um visco doce que gruda minha pele na sua, um sem número de vezes eu e você, eu e você, e você se torna eu mesma. E como seu prazer que é meu, como seu olhar que é em mim, como sua boca em carícias, seu ventre esmago entre minhas mãos espalmadas. Te invado, uma brisa de ternura não me deixa esquecer quem é você, mas logo me lembro que agora por fim lhe reconheço, e só assim foi possível entender o que o amor me impedia. Não o meu. O meu eu desvendei em uma noite, em outras horas, sem locais, sem pátria, sem minúcias, sem referências. O meu eu entendi com o seu calor no meu ombro, meu hálito em seu pescoço e disse que seria assim o meu rito de luxúria, pois só com você a mesa é pequena demais, o começo é desespero em cores, o passo dado é uma porta aberta, a mão que afaga também me alenta e eu, sou eu somente, enquanto você dorme embaixo d'água. </span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-17158784842211362372011-06-10T16:36:00.007-03:002011-08-31T01:39:45.336-03:00você tem sede de que?<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Manoel acorda com um beijo de Maria e desperta com um longe sussurrar no pé do ouvido: se despeça. Ele vive sem esperar um dia que se ponha em luminosidade diversa. Ele se esquiva das adversidades do dia que se apresenta, <i>Olá</i>. Ele se expõe às exigências da manhã que lhe exige posturas finitas, amarradas por lenços de papel. Se rasga. Manoel segue e chega afinal ao restaurante que o alimenta todos os dias. Sem suspirar ele cede aos pedidos impacientes de quem tem fome e pensa que talvez os clientes não tenham tanta fome de comer. Ele escreve o que lhe ditam, toma nota dos anseios alheios e se esquiva novamente. Manoel não acredita no amor, ele prefere os vinhos. Os vinhos não se lamentam quando se acabam as garrafas ou quando as rolhas se quebram, isso fazem as pessoas, mesquinhas, humanas, ralé. Não se queixam de serem esquecidos nas adegas, se mais profundo o sono, maior a expectativa para serem degustados, mais importante o dia de serem desfrutados, eles não tem pressa de se tornarem conhecidos. Não desejam durar para sempre; são o tempo da garrafa, 6 taças elegantes que giram e giram e giram entre os dedos daquele que em seguida lhe afundará o nariz para tentar decifrar sua essência. Que pretensão, eles diriam, malditas pessoas, humanas, mesquinhas, fúteis, ralé. Manoel não acredita na solidão, ele ainda prefere os vinhos. E sempre se serve do último gole das taças recolhidas das mesas no final da noite. Manchadas de batom, de lágrimas, de molho de macarrão. <i>São apenas taças</i>, ele pensa, <i>o vinho é que carrega a verdade de cada um deles</i>. Ele não era capaz de dizer o que traz a saliva que se mistura ao último gole, mas sabia que se ontem sonhou com uma casa de madeira escura, hoje era dia de se molhar de tristeza por um coração que já morreu.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><i>Ao roterista.</i></span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3184628938989002697.post-61822906690314669342011-06-06T18:57:00.000-03:002011-06-06T18:57:29.342-03:00não sei de nada e não sou de ninguém.<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Me empresta seu isqueiro? é frase feita de dias de frio próximo a bancas de jornal por aqui no Rio de Janeiro. Ao parar por ali para a pausa diária, a reflexão vespertina, o <i>break</i> entre um pepino e outro para resolver e sempre ela estará lá, a mão estendida a pedir fogo. Se eu soubesse que seria assim, eu não teria nem emprestado a primeira vez. Um círculo vicioso, um mão em mão que se propaga, quase um sabonete de quartel. E eu hoje pensei que várias vezes eu chego em casa, e entre um cigarro e outro, tentando segurar mais coisas do que posso, carrego o isqueiro na boca. Caralho!, o mesmo isqueiro imundo que passa entre os dedos de várias pessoas sedentas pela chama, a minha chama. Cansei de emprestar meu isqueiro, não me pede mais, por favor? Eu empresto hoje aqui e deixo de acender meu cigarro lá. O meu cigarro não o seu ou de um cara desconhecido na rua. Meu fogo, minha chama, meu calor, o que não se dá assim em qualquer esquina ou banca de jornal. <i>Compre o seu meu senhor</i>, direi da próxima vez, ou <i>Aqui do lado vende, compra o bic jumbo que dura mais</i>. Cansei de dividir meu fogo. Daqui a pouco a coisa se estende de um jeito que logo estarão me pedido um trago do meu próprio cigarro. </span></div>Beta C.http://www.blogger.com/profile/14641727295134980099noreply@blogger.com3