quarta-feira, 11 de maio de 2011

nobody wants you when you are down and out.

Por aqui é assim que a tristeza vem. Enquanto eu brincava de ser deus, enquanto eu dizia para os outros que ser eu me bastava. Nem eu fazia idéia de quantas vidas seriam necessárias para eu reaver tudo que havia renunciado desde o súbito momento em que resolvi decidir pelo que acreditava mais justo e honesto, ainda que por isso fosse necessário amargurar a dúvida o resto de meus dias. Por aqui é assim que me resguardo, que me afasto do olhar julgador dos outros. E cada vez mais me dou conta do quão amarga minha vida se tornou a partir do dia em que escolhi simplesmente não me importar com a opinião daqueles que me cercam, apenas porque acredito que ninguém é capaz nem tampouco digno de merecer esse posto, nem exercer essa função. Acredito que nem eu tenha o direito nem a capacidade de dizer o que é certo ou o que é errado, pois um passo só movimenta um corpo quando guiado a uma determinada direção: quantas vezes me vi repetindo meus passos por acreditar que me levariam adiante porque de outra vez o fizeram, e acabei me perdendo no caminho? É nesse mar de olhares perdidos na multidão que se encontram o meu e o seu, vagando indolentes e inertes, recaindo sobre os outros e nos julgando enquanto nos incomodamos silenciosamente com o peso da observância alheia, não pelas opiniões em si, porque estas - por mim posso falar - nada influenciam, mas pela invasão certeira quando estão em pauta nossas escolhas, nossos gostos, aqueles sobre os quais somos capazes de falar por horas a fio, sem a corrupção da crítica. Não estamos mais em cárcere aguardando na madrugada, no chão de pedra da cela fria uma mão milagrosa abrir o portão que nos cerca, e hoje acredito que nunca estivemos. As barras das grades eram afastadas o suficiente para que passássemos o corpo inteiro, baixas o suficiente para que pulássemos sem riscos; o que nos intimidava em absoluto eram os olhares dos que nos assistiam de fora: a prisão estava mesmo dentro de nós e nos impedia de perceber que tudo não se passava de um medo virtualmente imposto, sem manifestação oficial nem documental. E é essa discussão recorrente sobre o peso do olhar dos espectadores - e não das personagens - das nossas histórias que encerro aqui.

Um comentário:

Antonio de Castro disse...

eu diria que o texto pode ser dividido em dois.
eu pararia depois da interrogação em "e acabei me perdendo no caminho?" e continuaria o outro a partir daí.

me emocionei sinceramente com a primeira parte (que existe na minha cabeça) e a segunda... no fundo é o que muita gente vive. esse medo de ser.