sexta-feira, 31 de agosto de 2007

sem mais

Ah, o amor! Quer sentimento mais vago que esse? Não tem motivo, explicação e mobiliza as pessoas em função dele. Elas se cegam e se anulam em busca de um refúgio, de um cúmplice; se perdem e cobram do outro a projeção de si mesmas. Milan Kundera é um realista. Retratou o amor como ele realmente é, repleto de vaidades e orgulhos, de cobranças, da tentativa vã de acharmos nos outros o que buscamos dentro de nós. O amor como ele deveria ser não existe; sem compaixão, sem expectativas. A falta de leveza nas relações e a necessidade, a busca constante pelo novo e pelo melhor não nos permite atingir esse degrau. O resultado é evidente. As frustrações são cada vez mais constantes, visto que nunca iremos conseguir achar alguém que atenda a todas as nossas vontades. Veja bem, tudo gira em torno de atender a nós mesmos. Quando encontramos alguém que dizemos amar, a primeira preocupação que temos é se iremos nos sentir fulfilled, se aquela pessoa irá nos satisfazer e nunca, deixemos a hipocrisia de lado, pensamos se seremos capazes de fazer isso por ela. O pior de tudo é ainda quando nos irritamos porque o outro não age da maneira como nós agiríamos.

Eu sou egoísta e assumo. Ou apenas não tenho evolução espiritual o suficiente para amar assim. Eu ainda não encontrei minha Karenina; ou meu Karenin. Eu ainda preciso de alguém que atenda minhas necessidades e meus objetivos. Não porque preciso ostentar, nem exibir ninguém, mas porque preciso de alguém para andar lado a lado comigo. E aí volto ao ponto de que precisamos de alguém que seja nosso espelho. Na verdade, um espelho que não reflita a nossa verdadeira imagem, mas a imagem do nosso ideal.

Estar com alguém, eu tenho visto, é uma circunstância, no que se refere ao fato de aquela pessoa representar quem você é naquele exato momento. Seja pelo meio que você vive, pela profissão que exerça, pelo lugar onde você mora. Uma vez afastado dessa circustância, você simplesmente abandona esse amor, na medida em que a distância faz com que você esqueça. O sentimento que surge depois, como disse Drummond - queira Deus que eu não me engane -, é de fato a frustração pelo que não vivemos e a saudade do que poderíamos ter vivido. E sofremos por coisas que nem aconteceram e que provavelmente não viriam a acontecer. Muitas vezes, é essa a sensação que preenche as pessoas que sofrem de amores crônicos e mal resolvidos - como eu - que na maioria das vezes nem tiveram um começo. Essa agonia de pendência, de dúvida é na verdade resultado da ilusão que criamos dentro de nós mesmos, de idealizações, de cenas que vemos quando queremos e da maneira que queremos, sem sermos fiéis a como de fato elas foram ou virão a ser. É mais gostoso, é mais romântico, mas, eu me pergunto, quantas vezes é amor? Seria o amor uma realidade, ou simplesmente uma criação de nós mesmos a partir da solidão que existe dentro de cada um de nós?

Viva Gabriel Garcia Marquez.