domingo, 25 de outubro de 2009

samba e amor

Fernanda ouvia o samba se esvair pelas escadas enquanto tentava encontrar uma resposta para a garganta entalada que já sentia há dias. Por um segundo, conseguiu se sentir livre novamente, como já não se sentia há muito tempo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

o meu amor



O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

domingo, 4 de outubro de 2009

detalhes

O que a Fernanda mais gostava na Flavia era o jeito que ela fingia não entender quando a Fernanda dizia que a amava. Fernanda gostava ainda mais quando ela tentava prender o sorriso e, quando não conseguia, punha a mão na frente da boca, como se conseguisse esconder como os olhos se fechavam e as pregas que apareciam ao redor deles. Ela adorava quando a Flavia usava pijamas de flanela e meias. Quando ela dizia um puta palavrão, ficava vermelha e pedia desculpas depois.

Apaixonaram-se pelas mãos umas da outra. Talvez um pouco de suas personalidades estampadas, ou, quem sabe, um fetiche totalmente inconsciente. Mas, com absoluta certeza, de tal modo que toda vez que segura a mão de uma mulher, lembra-se das mãos brancas de Flavia e de como se encaixavam nas suas.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

the killer in me is the killer in you

01 de outubro de 2009






Achei meu primeiro cabelo branco. E tenho testemunha.






versículo vigésimo segundo

"Cristiana diria: estou apaixonada por você. E o que Helena quis dizer - algo que Cristiana acha que entendeu, mas não - é: eu não sei o que faço afetivamente; porque, afetivamente, sou uma ameba; e vou fazê-la sofrer por causa disso."

"O efeito Urano" - Fernanda Young

Acabei. E como disse pra Luh: ainda não sei se gosto dela ou se sinto asco e vergonha de todos os episódios patéticos pelos quais todo mundo (inclusive eu, claro) já passou.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

21 andares

Tereza dirigia como uma louca, atravessou o túnel aos berros no celular, os cabelos voavam cobrindo-lhe o rosto, passava a marcha com a mesma mão que segurava o cigarro. Do outro lado da linha Cesar gaguejava, ouvia os gritos dela misturados com o som da chuva e do motor dos carros que ela cortava.

Quando finalmente o barulho diminuiu, Tereza já estava com o indicador direito colado na campainha, como se para todo o prédio ouvir. Ele abriu a porta ainda com o telefone na mão, sem camisa, olhando pra ela, os cabelos embolados, a blusa branca manchada da garoa, pedindo permissão para entrar. Ele lhe deu passagem e perguntou se ela queira uma água.

Ela sentou no sofá e, bem Tereza, puxou um assunto aleatório. Ele prosseguiu oferecendo um pedaço de um doce amarelo e foi esse o dia em que Tereza comeu pamonha pela primeira vez. E na verdade não gostou. Então, de repente, sem nem se lembrar o porquê, voltaram a discutir. Ela chegou a sair porta afora, mas ele, num puxão pela cintura, a trouxe de volta já com a boca colada na dela. Quando voltaram para o sofá, ele já tinha as mãos percorrendo-lhe as coxas por baixo da saia curta.

Eles treparam na sala, passaram pelo chão do corredor e terminaram em cima da cama, com Cesar aos prantos, perguntando como ela tinha coragem de fazê-lo sentir aquilo tudo e depois se despedir. Tereza já pegava a chave do carro e procurava um dos brincos que perdera no trajeto. Beijou-lhe as lágrimas, enxugou-lhe os lábios, mergulhou o nariz em sua nuca, ainda agarrada aos fios escuros que a percorriam, desculpou-se mais uma vez e bateu a porta em suas costas, ainda ouvindo os soluços que atravessavam a parede. Desceu o elevador, o rosto pálido em choque.

Terminou a noite, totalmente perdida, com as pernas abertas pro Beto, imaginando quem seria o pai se a pílula falhasse.