segunda-feira, 24 de agosto de 2009

raimunda, eulália, isidra...

"Para centenas de mulheres madrilenhas, a vida tinha ganho um novo objetivo. O fogo que fulminava suas entranhas não tinha descanso. Os homens não conseguiam acalmá-las totalmente, mas a situação melhorava quando eles estavam dentro delas."

"Fogo nas entranhas" - Pedro Almodóvar

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

já era de se imaginar

Eu não vou amar você. Pelo menos não por enquanto. Não pretendo me casar com você, mas se acontecer, não hesitarei. Estou aqui, se você quiser, para viver. Não quero vínculos, não tenho regras. Estarei aqui para andar ao seu lado, não amarrada. Não sei pra que tanta pressa, tanta ansiedade. Não sei porque esse desespero. Porque garantias. Pra mim, basta sermos eu e você.

E então, Clarice não pôde suportar o livre arbítrio, a liberdade recém conquistada, as escolhas a lhe torturarem e decidiu retornar para a certeza medíocre de onde saiu. Adeus frio na barriga, boca salivando, coração acelerado. Adeus vontades. Adeus. Correu de volta para sua vida enlatada, como um ladrão que roubou, mas não conseguiu levar, o rabo enfiado entre as pernas, muda, engasgada com a vergonha que lhe consumia pela covardia.

Chegou em casa; Gabriel inerte sentado na poltrona, olhando para a TV, nem ao menos se deu conta de que ela havia saído para nunca mais voltar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

em (ho)menage(m)

ousada
amorosa
*
responsabilidade
franqueza

Transmite desde muito cedo seu lado afetuoso, muita beleza e harmonia. Sua serenidade passa sempre a impressão de tranquilidade mesmo diante das tormentas. Seu jeito bondoso de ser faz com que todos busquem seus conselhos. E o senso de justiça é o que faz buscar sempre a verdade.

Busca um comportamento que esteja acima de qualquer julgamento e não aceita a companhia dos que não agem de acordo com suas convicções. Exemplo de honestidade e equilibrio, busca agir sempre com imparcialidade. Excelente anfitriã, gosta de ouvir tudo o que as pessoas têm a lhe dizer. Cerca-se sempre de conforto e qualidade.

São muitos os pontos positivos, mas frequentemente corre o risco de ser vista como orgulhosa. Driblar este aspecto torna-se fácil quando aprende o valor da compreensão e a perdoar os erros dos outros.


parabéns pra vc.
nessa data querida.
(L)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

doutor Urbino

"Ia contra toda razão científica que duas pessoas apenas conhecidas, com culturas diferentes, sem parentesco nenhum entre si, com caracteres diferentes, e até com sexos diferentes, se vissem comprometidas de repente a viver juntas, a dormir na mesma cama, a compartilhar dois destinos que talvez estivessem determinados em sentidos divergentes.

Dizia:

'O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do café.' "

"O amor nos tempos do cólera" - Gabriel García Márquez

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

epa hei, oya






A sexta chegou com o vento.







quarta-feira, 5 de agosto de 2009

cômodo

Clarice decidiu ir embora.

Arrastou-se por toda a casa, dando adeus ao que um dia fora seu lar. Olhava para os móveis e tinha dó de si mesma quando se lembrava do quanto fora feliz. Ouvia ecoar os risos por todos os cômodos, até se perderem no silêncio que já se incorporara à sua vida. Olhou pela janela e o dia preguiçoso começava a se iluminar.

Pensou mais uma vez em tudo o que estava deixando para trás. As mãos gelaram e chegou a enausear-se. Recomeçar já era realidade, mas cadê a coragem, cadê a segurança?

Por um momento não conseguiu entender porque tinha resolvido assim. E então lembrou-se do frio na barriga que tinha voltado a sentir sem explicação, sem lhe pedir licença.

basta [1]

Fernanda respirou fundo, mais uma vez, eram tantas as coisas que tinha para dizer. Engoliu tudo a seco, as palavras indo e vindo, refluxo, pensou não fosse conseguir segurar.

Pensou em como achava tudo aquilo uma bobagem, em como as pessoas teimam em dificultar a vida, em como tudo seria mais simples se todo mundo optasse simplesmente por viver, em como está cansada de se sentir vulnerável.

Cogitou perguntar, expor, convencer, dizer o quanto deseja, contar a sua entrega e no final Vai tomar no cú. Chega. Cansei.

a volta

Tereza chegou em casa, os cabelos oleosos, os dedos amarelos de nicotina. Achou que fosse morrer e, no fundo, era o que ela mais queria.

Entrou no chuveiro de roupa e tudo, a água gelada encharcando-lhe a alma. E aos poucos, o vazio foi dando lugar a um grunhido agudo e lancinante, e, de repente, ela gritou.

E debatia-se e chorava, prensava os olhos tentando expelir toda a dor numa golfada. Viu-se encolhida no chão do box, as mãos agarradas aos cabelos, já sem as roupas lançadas como trapos contaminados de peste. Como tremia.

Por um segundo, viu tudo se apagar, o corpo congelou de baixo para cima e deu graças a Deus.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ansiedad

Um não caber dentro de mim mesma; querer viver o amanhã antes do ontem; comer porque preciso e não porque sinto fome; não sentir fome por ter o estômago lotado de borboletas; um não saber o que fazer com os braços; querer subir na pedra da Gávea e gritar até as lágrimas começarem a correr, os soluços desentalarem, pra no final rir loucamente; pensar em tudo; pensar em nada, mas naquilo; querer deixar tudo para trás; querer começar tudo de novo; não querer começar nada; ter medo de aceitar o novo; sentir a boca seca o dia inteiro; ler 20 vezes a mesma página do livro e não conseguir acompanhar a personagem; não ser capaz de ouvir uma música sequer até o final; falta de ar; sufocar com as roupas; querer arrancar a própria pele pra tentar aliviar a pressão; contar com o pior pra tentar se proteger; pensar no melhor pra tentar se convencer; tentar não engasgar com a impotência alucinada de ter que esperar o tempo passar; sentir o sangue borbulhando nas veias; rezar para cair uma tempestade e acreditar que ela vai limpar tudo; perceber que a chuva só aumentou o abafado; fechar os olhos e ver sempre a mesma coisa; sentir as costas repuxarem há uma semana e tentar ignorar a causa; morrer de saudades do que ainda vem.

um dia a menos