sexta-feira, 31 de julho de 2009

es muss sein!

"Além do seu amor por Tomas, que se consumara, havia no reino das possibilidades um número infinito de amores não-consumados por outros homens.


Acreditamos todos que é impensável que o amor de nossa vida possa ser uma coisa leve, uma coisa imponderável; achamos que nosso amor é o que devia ser; que sem ele nossa vida não seria nossa vida."


Milan Kundera - "A insustentavel leveza do ser"

ta melhor agora?






no dia seguinte, tudo passa.





terça-feira, 28 de julho de 2009

me desdobra

E num rompante de desespero e desejo, ela se encaixou no colo dele, com as pernas dando-lhe um nó e ele, sem pensar nem por um segundo, levantou-se do sofá, com ela ainda atada a seu corpo, cravando-lhe os dedos nas coxas.

Saiu então atropelando todas as portas da casa com as costas dela, até cairem deitados na mesma posição, mas sem nunca, nunca descolarem os lábios.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

benditas

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei

Benditas coisas que não sejam benditas

A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

sexta-feira, 24 de julho de 2009

6 franceses, por favor

Tereza começou a se acostumar com a idéia de que nunca mais iria ter o Beto. Ele mudou-se, trocou de telefone, de corte de cabelo e de carreira. Ela continou se afundando na mediocridade que lhe sobrou por algum tempo, mas conseguiu voltar a se lembrar do que tinha feito na noite anterior.

Até que numa tarde de sábado, sem maiores pretensões, Tereza saiu para comprar uns pães na padaria, cruzou com a mãe do (futuro) filho do Beto e só voltou pra casa 4 dias depois.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

me encosta

Fumo quando me entedio e em outras poucas ocasiões.

Ele, claro negou a oferta e já tinha os olhos nela toda. Ela, em contrapartida, mantinha o olhar fixo, as sobrancelhas semierguidas, como se estivesse vendo muito através e além das paredes que os mantinham prisioneiros daquela tensão. Vez ou outra baixava as pálpebras em busca da caneca de café onde batia a cinza do cigarro.

E ele, com os olhos ainda nela toda, sentia o coração ser esmagado pelas duas mãos de um gigante, mas, ao mesmo tempo, tentando escapolir pela garganta afora. Fazia tanto silêncio que lhe afligia a idéia de que ela percebesse seu peito sendo espancado por dentro.

Não foi o tempo de só um, mas de três cigarros. Ela mergulhou a última guimba na caneca e jogou as pernas para o lado; plantou os pés no assento do sofá e abraçou os dois joelhos de uma vez.

Ele voltou os olhos novamente para seus pés, porque as pontas dos dedos lhe resvalaram por um milésimo de segundo. Foi aí que sentiu correr pelas costas uma gota solitária de suor gelado, que fez seu corpo se arrepiar por inteiro.

terça-feira, 21 de julho de 2009

sem prazo dessa vez

E, então, hoje de manhã, levantei num susto ainda com a sensação morna de encaixar o queixo no seu peito com você enrolando os dedos nos meus cabelos e depois escorrer pro lado sem sair do seu abraço com a minha perna enroscada na sua feito uma trança de padaria daquelas bem doces recheadas de maçã com canela.

É isso. Você tem gosto de maçã com canela e foi por isso que me dei conta de que já tinha dormido com você.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

turma de três

Não sou uma pessoa de muitos amigos. Não gosto muito das pessoas, elas me cansam, e isso não é novidade pra ninguém. Aqueles que resistem são vitoriosos, não porque tem a minha amizade, mas porque conseguiram superar as minhas exigências insuportáveis.

Hoje é dia do amigo. Prefiro dizer, que hoje é o dia dos vértices. Desse triângulo às vezes retângulo, às vezes eqüilátero; mas o que importa, na verdade, é que ele nunca vira uma reta. Nem um círculo. E nessa matemática vamos mantendo esse vínculo distinto.

No fundo parece que demos as mãos pra nos restringirmos às coisas que nos constroem como indivíduos e não ao que nos rodeia. O que está fora, permanece fora, não porque não importa ou porque não influencia, mas simplesmente porque não tem espaço. Porque esse triângulo é nosso. Das nossas bobeiras, idéias, putarias, sonhos, desejos, dos nossos passados, da nossa troca.

E foi tão assim, sem querer, que quando vi, já não tinha mais jeito, não dava mais pra sair.

Um post para os vértices, representando, hoje, todos os amigos de sempre.

segunda-feira

Era só mais um dia ordinário na vida de Clarice. Deixou a Bia na casa do irmão e seguiu para o trabalho.

Foi antes do chá preto da manhã, quando comprava os biscoitos pra acompanhá-lo, que Luiza voltou pra sua vida. Assim, sem mais. Desenrolou o cachecol do pescoço, livrando-se dos teimosos cachos, já sorrindo pro rapaz franzino do balcão, pedindo uma média e acendendo um cigarro.

Já eram tantos anos desde aquele dia do portão, que Clarice tremeu e gelou só com a idéia de que Luiza não se lembraria dela.

Mas como Luiza poderia esquecer aqueles olhos?

sábado, 18 de julho de 2009

me sufoca

Ela sentou no canto esquerdo do sofá, em cima de uma perna, a outra com a sola do pé colada no assento, catou um cigarro na bolsa, acendeu, e apoiou o cotovelo do braço direito no joelho, segurando a fumaça entre os dedos.

Ele olhou pras unhas dos pés dela pintadas de vermelho sangue, sem desgrudar os olhos, e disse surpreso Eu não sabia que você fumava.

E ela displicente Eu não fumo. Você quer um também?