sexta-feira, 10 de junho de 2011

você tem sede de que?

Manoel acorda com um beijo de Maria e desperta com um longe sussurrar no pé do ouvido: se despeça. Ele vive sem esperar um dia que se ponha em luminosidade diversa. Ele se esquiva das adversidades do dia que se apresenta, Olá. Ele se expõe às exigências da manhã que lhe exige posturas finitas, amarradas por lenços de papel. Se rasga. Manoel segue e chega afinal ao restaurante que o alimenta todos os dias. Sem suspirar ele cede aos pedidos impacientes de quem tem fome e pensa que talvez os clientes não tenham tanta fome de comer. Ele escreve o que lhe ditam, toma nota dos anseios alheios e se esquiva novamente. Manoel não acredita no amor, ele prefere os vinhos. Os vinhos não se lamentam quando se acabam as garrafas ou quando as rolhas se quebram, isso fazem as pessoas, mesquinhas, humanas, ralé. Não se queixam de serem esquecidos nas adegas,  se mais profundo o sono, maior a expectativa para serem degustados, mais importante o dia de serem desfrutados, eles não tem pressa de se tornarem conhecidos. Não desejam durar para sempre; são o tempo da garrafa, 6 taças elegantes que giram e giram e giram entre os dedos daquele que em seguida lhe afundará o nariz para tentar decifrar sua essência. Que pretensão, eles diriam, malditas pessoas, humanas, mesquinhas, fúteis, ralé. Manoel não acredita na solidão, ele ainda prefere os vinhos. E sempre se serve do último gole das taças recolhidas das mesas no final da noite. Manchadas de batom, de lágrimas, de molho de macarrão. São apenas taças, ele pensa, o vinho é que carrega a verdade de cada um deles. Ele não era capaz de dizer o que traz a saliva que se mistura ao último gole, mas sabia que se ontem sonhou com uma casa de madeira escura, hoje era dia de se molhar de tristeza por um coração que já morreu.

Ao roterista.

2 comentários:

Antonio de Castro disse...

vinhos são a principal pedida da estação.

acabam sendo as principais companhias.

Anônimo disse...

A verdade está mesmo no vinho