Eu não seria nada se não fosse a
minha vida de deixar viver. Eu não seria mais nada além, se não houvesse dito e
revisto os passos que dei, as manias que perdi e as palavras que deixei no ar.
Sem você eu achei que não viveria, mas descobri que o seu silêncio me foi mais
digno que o seu perdão. Eu lhe falei que o meu hoje era um vazio pleno de
desconfianças e desprezo, que eu não podia mais sentir nada que não fosse o que
outro dia eu refiz meu, mas eu preferi desdizer o meu ontem a rever o amanhã.
Eu soube desde sempre que isso não daria certo. E não deu. Não porque o meu
começo não tenha sido em desconforto, mas tanto mais porque o dia certo de existir
sempre foi o que por mim se deu a controlar. Eu não tive controle de tudo, eu
não aprendo que não é possível ter controle de tudo e que é exatamente aí que
tudo se encaixa. Eu não sou nada além de uma mentira que se detém em erros para
justificar meus impulsos e minhas totais verdades. Eu não tive medo de entrar
no palco sem tirar o chapéu, não foi isso exatamente que me feriu. Foi o seu
não em forma de sim para depois, que me tirou as rédeas que eu gosto de ter em
mãos. Foi o meu desespero em forma de preocupação que me tornou esse desterro,
esse impacto sem provas, essa dor em desatino que me corrói. Eu fui corrompido
por mim e, disso, ninguém me avisou. Se eu não pudesse mais saber o quanto seria
fácil ter uma união em relento, uma falsa noção de prazer, eu teria sido menos
prudente. Teria me deleitado
em redenção, em nostalgia, me permitindo viver com você o que eu vivi em outros
braços, e estaria por fim, revivendo. Essa liberdade que inspiro
é muito menos que o pânico de não ser desejado, uma lenta e suave ilusão de que
o mundo conspira para que o meu sétimo dia seja tudo menos descanso. Eu seria mais se não me sentisse tão
pouco amado, e tudo o que preciso hoje é de alguém que me enxergue, o que
absolutamente se distancia de apenas me ver, porque é isso que me faz caminhar
adiante. Você não é nada, só alguém com quem
dialogo para não me sentir tão só, que criei dentro de mim como o
perfeito interlocutor em meus dias infinitos, meus profundos vazios. Eu também
não sou ninguém e sem demora me apresento para dizer que sou infeliz como você, que
não sei o meu lugar num mundo tão imenso e que não sei por onde começar a
procurar. Muito prazer.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
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