quarta-feira, 17 de agosto de 2011

você só me fez mudar, mas depois mudou de mim.

Hoje Clarice morreu. Morreu de morte matada, morte sofrida, morte abandonada. Foi a morte do amor de nunca vida, a morte do sereno escutar da palavra ávida de sentido. Clarice morreu, Alice não se culpa mais. 

Hoje foi o dia em que Alice, matou Clarice. Puxou seu pé por baixo da mesa e derrubou-a de cabeça no chão. Ela estava desacordada e não entendeu quando Alice bateu a porta atrás de si e ateou fogo na casa. Clarice sufocou com a fumaça e não conseguiu pedir socorro, rastejou por algum tempo, entre fragmentos de desdém espalhados pelo chão e por fim achou a porta, aquela que Alice fechou. 

Mas a chave Alice carregou consigo. E Clarice, sem entender o porquê, entendeu simplesmente que não seria capaz de sair. Era o fim. 

Adeus, vida, adeus. Adeus, bom dia, adeus. Adeus, promessas, palavras, perdão, palavras, pedidos, palavras, perdidas palavras. Adeus, dias, noites, dias-noites. Adeus, tempo, adeus. Adeus, boa noite, eu me despeço de todos daqui.

Adeus, mentira, adeus. Adeus, sufoco, vergonha, medo, ameaça. Adeus. Adeus. Adeus.

Meu coração bate vazio. Seu grito oco no meu peito espalha a dor que lateja o mar de veias que me irriga de falta. Estou sozinha, seu bem querer não me rege mais e, por isso, não me reconheço. 

Ontem ouvi meu nome na TV e fingi que era você a me chamar. Não era o meu nome exatamente, mas o nome diferente que escolhemos para nos chamarmos e que em qualquer contexto me lembrará você. 

Eu sinto tanto pelos dias que desperdicei acreditando que você estaria comigo para sempre. Sinto pelas noites em que senti calor e não dormi abraçada com você o tempo todo. Eu sinto tanto, meu amor. Eu sinto tudo o que eu sentia e mais o espinho frio que me atravessa quando seu sorriso me vem em áudio e cor. E enquanto você sorri eu ouço um eu te amo redondo de luar, não o seu adeus silencioso de dor. 

E de cólera não se cria adeus, se compila motivos para não enxergar o que meu mundo, você, meu vulcão, despeja cego. Eu não sabia que seus pés pesavam tanto. Eu não sabia que seu coração batia tão devagar. Eu confundi o meu mundo com o nosso, eu fiz dele um céu limpo de rajadas de vento. Eu quis um querubim para me contar a história do dia igual a esse, no caminho igual a esse, mas que hoje me leva para muito longe daquele que eu pensei fosse ser o último gosto que eu iria conhecer. 

A lua me olha queimar aqui, a maldita. E eu não sinto mais o calor me arder. 

2 comentários:

[ Experiências do pensamento ] disse...

Sempre deliciar cada pedaço para cada adeus faz a saudade retumbar !! :)


Que lindo !

Antonio de Castro disse...

às vezes é preciso se despedir de algo.

às vezes é preciso morrer.

belo texto, como sempre.