sábado, 1 de setembro de 2007

citè

Não é um homem alto. Também não chega a ser baixo; mas toca o alto da porta sem ficar nas pontas dos dedos dos pés e sem esticar completamente os braços. A boca, de lábios grossos e definidos, é bem clara, tendo quase a mesma cor da pele do resto do rosto, abriga os dentes grandes que parecem ser todos do mesmo tamanho, regulares como o teclado de um piano, e declama - Drummond - com peculiaridade e prazer. Expressa com os olhos mais que palavras e dá sentidos novos a antigos termos corriqueiros. As lentes dos óculos em retângulo, essenciais, não escondem as sobrancelhas castanho-claro da mesma tonalidade dos cabelos que já teimam em abandoná-lo. Não que isso o faça menos do que ele é, de jeito algum. Impossível haver tal harmonia sem cada detalhe que ele revela.
É um homem. Esguio e magro, revela a barriga, quase um palmo abaixo do umbigo, em um gesto distraído ao se espreguiçar. Seus braços não param um minuto e as mãos são companheiras dos olhos escuros e dos lábios claros em deixar mais óbvio o que quer dizer. São pequenas, de fato. Não bem pequenas, mas tem dedos finos e não tão longos assim. É bonito quando fala, pronuncia um "A", assim, bem aberto, e mostra a boca que abre num arco longo, marca um traço em cada lado do rosto e uma covinha acima do traço, somente no lado esquerdo. Não sei se rói as unhas. Daqui não dá pra ver. Mas que importa? Tanto faz.
Nunca está barbado. Pelo menos não nas quatro vezes que o vi, não estava. Aliás, pouco dá pra perceber de sua barba, que, ao que me parece, não pode cobrir-lhe o rosto devido às falhas. É destro, de costas largas, quadris bastante estreitos; corpo de homem. Ah, sim! Agora vejo! As unhas são bem curtas, como se fossem roídas, mas não são. São brancas, limpas e as cutículas têm uma aparência macia, bem como as palmas das mãos, que teima em exibir.
O reflexo das lentes antes não me deixavam perceber que seus olhos na verdade são verdes. Não esse verde que a gente consegue ver através. Mas um verde escuro, mais escuro que azeitona, com a íris bem marcada como com régua e compasso. São realmente expressivos e me fitam sem suspeitar de nada. Eles me encaram como se eu fosse mesmo eu, e não o que, a princípio, me interessa ser. Ele me comove com a paixão que declara, não por mim, nem por ninguém, mas por algo que parece fazer questão de deixar claro, ser sua razão de viver. Ele me dá esperanças ainda.
Não é propriamente belo. É a sua transparência em 8 horas. A sinceridade e a não-vergonha, o não ver problema em falar nada e dizer tudo o que passa pela sua cabeça sem hesitação, provocando riso e sorriso, assustando por tanta inocência. Tem manias com certeza, mas, Oxalá, são boas. Usa tudo na medida; sem exageros, cada detalhe se encaixa perfeitamente e seria um pecado que qualquer um deles fosse deixado de fora. Tudo organizado, limpo e arrumado. Muita cor, livros e som.

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