segunda-feira, 24 de setembro de 2007

I wish I knew how to quit you

"Se alguém me perguntasse hoje, a dois dias dos meus 23 anos, qual momento eu escolheria para viver de novo eu diria, sem precisar pensar por um segundo sequer, o ano de 2003. Não porque só vivi coisas boas, pelo contrário; na verdade foi um ano de coisas ruins também. Ainda não sei dizer se escolheria todo o ano ou alguns meses. Ou escolheria dias. Horas. Segundos. Eu escolheria conseguir viver com aquela intensidade de novo. Ver as cores brilhando como papel celofane. Sentir o corpo dormente. E o coração batendo tão forte que dá para ver o peito latejar.

Eu sinto falta disso. Sinto falta do gosto doce daquilo tudo. Do cheiro das flores. Às vezes penso que tudo isso acabou e que não, não dá para sentir nada de novo. Que como tudo na vida, passa, passa para dar lugar a outras coisas. Novas, que substituem, que ocupam nosso tempo, nossas cabeças, que nos trazem prazeres e desprazeres, que nos fazem felizes. Penso que devo estar envelhecendo e perdendo a ternura, secando, esfriando. Mas não será cedo demais para isso?"

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Há pouco tempo venho redescobrindo a liberdade. A falta de compromisso com uma pessoa que conte comigo. É um egoísmo bom, saudável; amor-próprio, de fato. É poder sentar no metrô ao lado de uma pessoa que você conheceu há horas e falar bobagem; é aceitar um convite para sair; é fazer opções na vida sem ter que consultar ninguém.

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Muitas vezes eu acho que estou compartilhando um momento com alguém. Na verdade, entretanto, em todos eles acabo me sentindo só. Eu vejo, pouquinho tempo depois, que o que eu senti foi só meu.

É impossível conhecer alguém. E, no fundo, o grande prazer vem nisso, na imprevisibilidade da vida; em não saber com absoluta certeza e segurança o que o outro está sentindo. Curiosidade é uma palavra incrível.

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Algumas coisas são surpreendentemente as mesmas sempre e nos trazem sempre as mesmas sensações. O que muda são os efeitos que elas nos provocam, que variam de acordo com o que estamos vivendo naquele momento. O problema gira exatamente em torno desse efeitos, já que o meu momento não é necessariamente o momento do outro e daí temos as tão comuns questões de timing. Assim, o efeito que uma coisa provoca em você não é o mesmo provocado no outro.

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É estranho encaixar na minha vida de cores opacas um dia cintilante. Minha cabeça processa as informações a uma velocidade próximo ao incrível e fica com aquele dia grudado lá passando como um filme bom que se repete por uma semana no mesmo canal de TV. Acho que no fundo é isso. Um filme bom que posso ver quantas vezes quiser. Que, dependendo de como eu estiver no dia, vou perceber um detalhe diferente, vou rir e chorar de diálogos diferentes; meu coração vai bater mais rápido em cenas diferentes. Mas, como todo bom filme, excita quando começa e deixa saudade quando acaba. Fica sempre preso ao que está ali. Nada mais, nem diverso, pode ser vivido, só o que já está ali. E esse limite que o filme traz dá um pânico, uma sensação de afogamento um não saber incômodo, do que aconteceria com aquelas personagens se alguma daquelas cenas que se repetem infinitamente pudessem ser mudadas; do que aconteceu com elas depois que o filme acabou; do que irá acontecer se houver uma parte dois.

Mas não tem parte dois. Não tem como mudar as cenas. Só dá para acelerar o filme, cortar as cenas. Assistir em câmera lenta. A história é sempre igual; o que muda são os efeitos que elas causam.




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