terça-feira, 15 de dezembro de 2009

dois cafés com açúcar

Fernanda andava distraída pelo centro da cidade, o olhar velado pelo hábito. Olhou e não viu. De repente, voltou atrás. Virou para o lado direito e entristeceu ao ver o bar em obras. Chegou a por a mão na bolsa à procura do telefone, os dedos coçando para discar para ele, mas não podia.

Era prali que eles fugiam depois do almoço, tomavam um café requentado que ele teimava em dizer que era o melhor dos arredores e fumavam um ou dois cigarros, quando tinham um pouco mais de tempo. Falavam sobre tudo, sobre nada, se amavam e se odiavam.

Foi ali que ela se sentou pela primeira vez com ele, quando ainda nem sabia andar pelo centro. E deu uma tristeza saber que além deles, o bar também não iria mais existir, não da mesma forma que antes.

Ela se deu conta, então, de que fotografa lugares por onde passa, guarda reportagens que lê, decora letras de músicas inteiras, compra livros e assiste a filmes sempre que tem vontade de estar com ele, numa tentativa vazia de compartilhar sozinha um momento deles dois.

Uma maneira leviana de matar as saudades.

E de sentir, por um segundo que seja, aquela completude que só ele proporcionava.

Nenhum comentário: