quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

flor

Quando Clarice não achava possível que pudesse existir algo assim, descobriu que havia alguém além dela que podia entender o quão chato é ter que se repetir. Mais ainda, como as pessoas podem se tornar tão incômodas e irreconhecíveis de um dia para outro, como se falassem um idioma desconhecido e impossível de ser traduzido. Pela primeira vez, reconheceu em outra pessoa o desfrute da conquista e a repulsa ao prêmio vencido. Aliás, há de ser ressaltado: quanto mais árduo o combate, maior a indiferença após a vitória.

Não obstante o falatório geral, não houve santo que tirasse da cabeça de Alice que as histórias que corriam por aí tinham um quê de mal contadas. E, então, descobriu que não era bem assim que a banda tocava. Literalmente. Ademais, em favor das duas e em desfavor do restante, encontraram-se em uma sintonia talvez inédita. Três passos para frente, um para trás, sempre com um pézinho fincado em terra firme, foram aos poucos aparando arestas invisíveis. Quando se deram conta, passaram a confidenciar o que até então foram levadas a crer serem banalidades.

Clarice e Alice.
Não têm paciência para a inércia, mas muitas vezes se acham incapazes de sair dela.
Não sabem se compram uma TV ou se andam de bicicleta.
Juram que lealdade e fidelidade não são a mesma coisa.
Têm vontade de sair correndo quando ouvem uma música que amam.
Querem ficar sós, mas se sentem como um cão sarnento por acharem que não têm amigos.
Se apaixonam rápido e se desapaixonam mais rápido ainda.
Fazem as pessoas se apaixonarem por elas. E juram que não é por querer.
Provocam amor e ódio simultaneamente.
Estão sempre em ponto de ebulição.
Detestam o óbvio.
Atraem-se pelo excêntrico.

Clarice e Alice.
Separadas no nascimento?

(F)

Um comentário:

Alice disse...

Separadas sim, mas juntas agora :)

(F)