terça-feira, 24 de maio de 2011

oh boy we still have one last dance to dance.

Um soco me doeria menos. Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio, que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio, foi a primeira impressão do dia. O dia que eu preferia que acabasse ontem de manhã, quando eu ainda não sabia que você viria. 

Não tenho casa mais. Calcei meu sapato preferido, vesti o maior número de peças que meu corpo podia carregar ao mesmo tempo sem desfalecer, uma maçã que me esperava há semanas e um copo d'água antes de sair. E fui.

À noite deitei na calçada mais limpa que encontrei. Tinha vergonha de me escolher assim, não me encontrei onde quis me perder, não soube dizer para onde ia, porque absolutamente não sabia qual o caminho a ser seguido. Ainda que tudo me levasse a estar só, eu não podia dizer exatamente o quanto eu me sentia feliz com a solidão. 

Ela me aqueceu à noite, me deu conforto, me fez menos imunda do que eu me imaginava. Me fez ser eu novamente, uma nota perdida no fundo da bolsa que a gente encontra amarrotada quando precisa pegar um ônibus para casa. A casa que eu não tinha mais. A casa que eu cuidei como se fosse minha, mas era de vocês. A casa que me acolheu quando eu estava perdida. E hoje, eu me perco porque quero, porque preciso me encontrar de novo, como se eu não fosse desse mundo, meu deus do céu, o que eu faço para entender o que se passa aqui e tanto ao meu redor?

Se fosse só achar uma resposta, tudo pareceria quase ideal, por mais que eu pudesse desviar minha atenção dos dias nublados, a vida continuaria a chover, ainda que eu soubesse o porque, não haveria o que será, ou que serei. Não há jeito de dizer o que eu poderia evitar se não escolhesse por mim. Eu não escolho, eu me disponho a ressurgir do nada, como sempre foi. 

E ainda que eu teime ou que eu fuja do meu todo, uma parte sempre permanece, mesmo que os pedaços com o tempo se descolem andarilhos pelo mundo, deixo meus dias vividos no passado e penso que o futuro é um passo adiante. 

Já me acostumei a essa rotina. Eu durmo aqui hoje, encosto minha cabeça no seu peito e me pergunto se amanhã a calçada estará menos fria.

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