sexta-feira, 6 de abril de 2012

nobody wants you when you are down and out [2].

O homem do relógio resolveu ir embora. Assim, sem mais nem menos, porque resolveu. Decidiu que os dias seriam contados ao contrário, a partir da sua chegada no novo destino que ainda desconhecia. Limpou a casa, cobriu os móveis, fechou todas as janelas, libertou os pássaros da gaiola, e, o cão, deixou na casa da vizinha que já cuidava dele durante suas viagens de rotina. Saiu às 5h da manhã, horário em que todos dormiam, mas não se preocupou com a hora exata. Deixou para trás os horários, as rotinas, queimou a casa e ligou para os bombeiros, não queria causar transtorno aos que viviam ao redor. 

O homem do relógio seguiu a pé, para não deixar rastros. Foi pelo caminho mais longo para ter tempo suficiente para se esquecer de seus planos e se perder no trajeto. Andou sem contar as noites por três meses, até que se esqueceu também de seu nome. Não sabia mais qual era seu prato preferido, o dia do aniversário de sua mãe, nem o nome do cachorro que havia deixado com a vizinha.

O homem do relógio esqueceu os números e viveu todos os dias como se fossem um só. Ia do 1, ao 2, do 2 ao 3. Chegava ao 12 e recomeçava. Do 1, ao 2, do 2 ao 3. Em círculos, ele andava. 

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