quarta-feira, 3 de outubro de 2012

tipo um baião.


De onde eu vejo agora, a lua andou uns metros para a esquerda. Quando eu pude vê-la, eu te lembrei de olhar para o céu também. Eu acho incrível isso de estar ao mesmo tempo sob a mesma luz refletida numa massa opaca que gira em torno de nós. Eu gosto de pensar que se olharmos ao mesmo tempo naquela direção vamos dividir um mesmo segundo a uma distância curta se a gente considerar daqui até a Lua, mas certamente considerável a essa hora, sob as nossas condições.

A mesma distância daqui ao Cristo talvez, que você propôs fazermos a pé. À noite. Não vi outra solução a não ser dormirmos lá, nós e a Lua, que se fosse hoje já não estaria tão cheia como vimos há alguns dias. Hoje não chove, o que também seria bom; o céu hoje está límpido, o que nos permitiria ver as estrelas, mas seria sinônimo de ventos cortantes nesse início de Primavera.

É verdade, eu tenho essa tendência de não ver só o lado bom. Com certeza, se fosse você aqui, e não eu, falaria das estrelas e de como o quarto minguante é uma fase de transformação, não se importaria com o frio, nem com a lua menos cheia, faria deles algum verso de encanto e deixaria o resto para lá. Nesses saraus ao luar, quando meu coração você, sem pensar, ora brinca de inflar, ora esmaga.

A verdade é que as minhas frases perdem o foco junto com as horas da noite, ficam todas enroladas. Não é só a intensidade que muda, mas a facilidade que surge involuntária em me desdizer e acabar dizendo o que queria, mas não pretendia dizer. Você sabe, eu prefiro aproveitar as manhãs, quando sempre tenho as melhores ideias e um maior controle de mim.

Não sei para que outra história de amor a essa hora; no fundo, eu pensei em esperar até amanhã, mas a Lua já andou um pouco mais e acredito que isso signifique uma despedida, com a chegada manhosa das primeiras luzes do dia. Na verdade são três horas, estou já nas primeiras horas da manhã, a escura e ainda não dormida, mas não deixa de ser manhã. Eu inverti meus horários, ainda não consegui regular o sono perdido.  Um quase não sei por que, somente agora você vem, vem para embaralhar os meus dias e por aí vai.

Eu roubo a coberta, avisei, e que roubava espaço na cama também, que no meio da noite eu ia estar na diagonal, como se estivesse sem mais ninguém no colchão. Você não me avisou, mas roubou minha mão na entrada e outras coisas acabaram indo com ela. Eu queria dizer isso na hora, mas não quis que você ficasse sem jeito. Ia acabar me devolvendo a mão ou dando um sorriso meio de lado envergonhado demais. Eu ia adorar o sorriso de lado, quando uma mecha do cabelo cai também.

Eu não roubei a coberta, nem o espaço no colchão. Devo ter roubado algumas coisas por certo, mas não sei dizer.




Um comentário:

[ Experiências do pensamento ] disse...

Ainda que roubar é só mudar de lugar,mas tirou do lugar, embaralhou e tudo ficou sem lugar. E foca o desleixo do que perante ao coração saltitar.