quarta-feira, 6 de outubro de 2010

do arpoador.

Quando acordou no dia seguinte, Marina tentava localizar seu próprio corpo. Eram um nó daqueles tão atados que precisou se concentrar para entender como seu braço podia estar encaixado por cima do travesseiro, enrolado nuns panos que depois descobriu ser parte da roupa que vestia quando chegou, embaixo de um pescoço de um conjunto de pouco mais de um metro e noventa de altura. E os dedos, agarrados nos cabelos dele. 

Verão escaldante, os dias amanhecem tão cedo que perdeu a conta do quanto de fato havia dormido. Sabia que se a gata decidisse entrar no quarto, fatalmente iria afastar a cortina e a mais romântica nesga de sol que se apresentasse seria fatal. Por um segundo, pensou em chamá-la para obrigá-lo a abrir os olhos e surpreendê-la ali enamorada, mas lembrou-se de que esquecera o nome do bicho. Era a segunda vez que entrava lá e a única coisa da qual conseguia se recordar era do abajur ao lado da cama que amou e arrependeu-se por perguntar de onde saíra.

Mas dele, lembrou-se para sempre. Em especial, desse dia em que escolheram juntos um dos livros que ele expunha na estante e passaram a tarde deitados quase na mesma posição que acordaram, entre xícaras de café, saliva e cigarros especiais, e se transformaram em personagens fantásticos.

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