Tereza dirigia como uma louca, atravessou o túnel aos berros no celular, os cabelos voavam cobrindo-lhe o rosto, passava a marcha com a mesma mão que segurava o cigarro. Do outro lado da linha Cesar gaguejava, ouvia os gritos dela misturados com o som da chuva e do motor dos carros que ela cortava.
Quando finalmente o barulho diminuiu, Tereza já estava com o indicador direito colado na campainha, como se para todo o prédio ouvir. Ele abriu a porta ainda com o telefone na mão, sem camisa, olhando pra ela, os cabelos embolados, a blusa branca manchada da garoa, pedindo permissão para entrar. Ele lhe deu passagem e perguntou se ela queira uma água.
Ela sentou no sofá e, bem Tereza, puxou um assunto aleatório. Ele prosseguiu oferecendo um pedaço de um doce amarelo e foi esse o dia em que Tereza comeu pamonha pela primeira vez. E na verdade não gostou. Então, de repente, sem nem se lembrar o porquê, voltaram a discutir. Ela chegou a sair porta afora, mas ele, num puxão pela cintura, a trouxe de volta já com a boca colada na dela. Quando voltaram para o sofá, ele já tinha as mãos percorrendo-lhe as coxas por baixo da saia curta.
Eles treparam na sala, passaram pelo chão do corredor e terminaram em cima da cama, com Cesar aos prantos, perguntando como ela tinha coragem de fazê-lo sentir aquilo tudo e depois se despedir. Tereza já pegava a chave do carro e procurava um dos brincos que perdera no trajeto. Beijou-lhe as lágrimas, enxugou-lhe os lábios, mergulhou o nariz em sua nuca, ainda agarrada aos fios escuros que a percorriam, desculpou-se mais uma vez e bateu a porta em suas costas, ainda ouvindo os soluços que atravessavam a parede. Desceu o elevador, o rosto pálido em choque.
Terminou a noite, totalmente perdida, com as pernas abertas pro Beto, imaginando quem seria o pai se a pílula falhasse.